Prosimetron

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sábado, 15 de novembro de 2008

Novembro com G. B. Pergolesi

O reconhecimento universal de Giovanni Battista Pergolesi está indissociavelmente ligado à composição do Stabat Mater de 1736. Pergolesi concluiu a obra no convento franciscano de Pozzuoli (Nápoles) onde viveu os últimos meses da sua vida (morreu aos 26 anos, provavelmente de tuberculose). O texto, existente desde o século XIII, reflecte, de forma extremamente emotiva, a paixão de Cristo na perspectiva de Nossa Senhora. De grande popularidade na região de Nápoles, em particular na versão de Alessandro Scarlatti, o Stabat Mater constituía repertório obrigatório durante a Quaresma.

O Stabat Mater de Pergolesi rapidamente se tornou conhecido do público do século XVIII, chegando mesmo a ser a composição mais publicada da época. Outros compositores, entre eles, Bach, recorreram nas suas obras a Pergolesi.



Pergolesi rompeu com a tradição da música sacra erudita: a estrutura é leve em todo o seu percurso; uma adaptação textual “magra”, quase elegante, integra-se numa melodia bem acentuada. Através de meios simples, Pergolesi conseguiu assim alcançar a mesma intensidade e profundidade que um Stabat Mater requere. Contrastando com a prática corrente de interpretar a paixão de Jesus através de abordagens musicais mais lentas e “sisudas”, Pergolesi revolucionou a música sacra de forma geral, o que, naturalmente, provocou algum desconforto junto dos eruditos contemporâneos. Segundo o compositor Padre Martini, a obra de Pergolesi apresentaria o mesmo vocabulário musical que a ópera La serva padrona, pondo em causa a seriedade do texto religioso.




Felizmente, foram poucos os ouvintes do século XVIII que seguiram a opinião de Martini. Rousseau considerou o primeiro andamento “o dueto mais completo e mais comovente jamais composto.” A provar tais palavras filosóficas, resta como sugestão o andamento (Fac ut ardeat cor meum), na interpretação excelente de Barbara Bonney e Andreas Scholl, acompanhados dos Talens Lyriques sob a direcção de Christophe Rousset.




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6 comentários:

Miss Tolstoi disse...

Gosto de Pergolesi. É bom para começar o dia (embora não sendo o mais apropriado), mas vou ouvir outros Pergolesi.
E a foto, Nápoles?

LUIS BARATA disse...

Belo post, como habitualmente.

Anónimo disse...

Comecei a ler o seu post e antes de terminar tinha percebido que era o Filipe Nicolau Vieira. Tem um toque bem pessoal. Também acho um belo post.
Obrigada pela música Sacra de Pergolesi.
A.R.

Anónimo disse...

Cara Miss Tolstoi,
Julgo ser Nápoles. Passei naquela cidade a correr, o objectivo da nossa viagem era Capri e foi a partir dali que atravessámos de barco.
De Nápoles, lembro-me da condução frenética dos napolitanos, das ruas muito sujas...mas apesar disso tem a beleza de uma cidade italiana. Não vi a cidade do ponto onde foi tirada esta fotografia, que é belíssima, o que tenho pena.
A.R.

Filipe Vieira Nicolau disse...

De facto, trata-se de Nápoles. Tive o privilégio de ver esta magnífica cidade e a costa do Golfo de Nápoles e Sorrento há pouco tempo. Maior ainda foi o privilégio de ter uma excelente companhia o que torna uma viagem à Itália inesquecível.

João Mattos e Silva disse...

Acho a mais bela das Stabat Mater. Quando estou cansado da vida ~e já começa a ser mais frequente agora- envolvo-me na música e esta é uma das que me faz descer às profundezas de mim mesmo, para ressurgir depois mais luminoso e iluminado. Hoje acertou na mouche, Filipe.