Prosimetron

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domingo, 9 de novembro de 2008

Passarei pela Praça de Espanha


O céu estará límpido.
As ruas abrir-se-ão
sobre as colinas de pinheiros e pedra.
O tumulto das ruas
não modificará esse ar imóvel.
As flores salpicadas
de cores, que há nas fontes,
piscarão os olhos como mulheres
divertidas. As escadas
os terraços e as andorinhas
cantarão ao sol.
Abrir-se-á aquela rua,
as pedras cantarão,
o coração baterá em sobressalto
como a água nas fontes -
será esta a voz
que subirá as tuas escadas.
As janelas saberão
o valor da pedra e do ar
matinal. Abrir-se-á uma porta.
O tumulto das ruas
será o tumulto do coração
na luz perdida.

Serás tu - imóvel e clara.

28 de Março de 1950

Cesare Pavese
In: O vício absurdo / sel., pref. e trad. Rui Caeiro. Lisboa: & etc, 1990, p. 55

Cesare Pavese - poeta, romancista e contista - nasceu em 9 de Setembro de 1908, numa pequena aldeia do Piemonte: Santo Stefano Belbo.

Foto: Praça de Espanha, em Roma.

1 comentário:

Anónimo disse...

O poema é lindo, gosto de Pavese. E a Piazza di Spagna magnífica. Surge a palavra saudade!
A.R.