No âmbito da Semana Gastronómica de Coimbra: "Cozinha de Escritores" vou apresentar trechos que de alguma forma revelem a gastronomia portuguesa. Não apresentarei receitas, por isso, vou procurar nos livros que gosto mais uma pequena descrição de uma refeição. 
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Eça, Rafael Bordalo Pinheiro, Livro das Glórias
Escolhi este livro porque é o livro do Eça que gosto mais. Talvez As Cidades e as Serras tivessem um excerto mais significativo mas tinha que colocar este trecho delicioso do Crime do Padre Amaro:
Escolhi este livro porque é o livro do Eça que gosto mais. Talvez As Cidades e as Serras tivessem um excerto mais significativo mas tinha que colocar este trecho delicioso do Crime do Padre Amaro:
"A hora do jantar sobretudo era a sua hora perigosa e feliz, a melhor do dia. A S. Joaneira trinchava, enquanto Amaro conversava cuspindo os caroços das azeitonas na palma da mão e enfileirando-os sobre a toalha. (…) depois do segundo copo da Bairrada tornava-se expansivo, tinha gracinhas; às vezes mesmo, com um brilho terno no olho, tocava fugitivamente o pé da Amélia debaixo da mesa; ou fazendo um ar sentido, dizia «que muito lhe pesava não ter uma irmãzinha assim».
Amélia gostava de ensopar o miolo do pão no molho do guisado…"
Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro, Lisboa: Livros do Brasil, sd p.99
2 comentários:
Há uns 8 anos, numa reunião em Porto Rico (nota: nenhum banco envolvido), estavam 2 portugueses a falar com um argentino e este revelou que o livro da sua vida era, precisamente, o crime do Padre Amaro. Por coincidência, os dois portugueses eram de Leiria. O seu interlocutor ficou verdadeiramente fascinado com o (pouco) que ainda sobrava da Leiria, com destaque para a Farmácia do "Carlos", em frente à Sé. Uns anos mais tarde, veio a Portugal e lá foi de "expresso" fazer a sua peregrinação a terras do Lis.
Que história tão gira! Obrigada.´
Este é para mim o melhor livro do Eça e a seguir "A Relíquia", depois vêm outros que não vou enumerar.
A Paula Rêgo fez uma série de telas fantásticas e algumas medonhas sobre este livro, não sei se é o livro que ela gosta mais. Li o catálogo da exposição há alguns anos, não me lembro.
Julgo que ela não pintou a personagem que entra apenas numa página (se não me falha a memória) "a fazedora de anjos", achei o nome lindo para uma profissão tão horrorosa!
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