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segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eça de Queirós na cozinha e na cultura 2

No âmbito da Semana Gastronómica de Coimbra: "Cozinha de Escritores" vou apresentar trechos que de alguma forma revelem a gastronomia portuguesa. Não apresentarei receitas, por isso, vou procurar nos livros que gosto mais uma pequena descrição de uma refeição.
Eça, Rafael Bordalo Pinheiro, Livro das Glórias

Escolhi este livro porque é o livro do Eça que gosto mais. Talvez As Cidades e as Serras tivessem um excerto mais significativo mas tinha que colocar este trecho delicioso do Crime do Padre Amaro:

"A hora do jantar sobretudo era a sua hora perigosa e feliz, a melhor do dia. A S. Joaneira trinchava, enquanto Amaro conversava cuspindo os caroços das azeitonas na palma da mão e enfileirando-os sobre a toalha. (…) depois do segundo copo da Bairrada tornava-se expansivo, tinha gracinhas; às vezes mesmo, com um brilho terno no olho, tocava fugitivamente o pé da Amélia debaixo da mesa; ou fazendo um ar sentido, dizia «que muito lhe pesava não ter uma irmãzinha assim».
Amélia gostava de ensopar o miolo do pão no molho do guisado…"

Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro, Lisboa: Livros do Brasil, sd p.99

2 comentários:

JP disse...

Há uns 8 anos, numa reunião em Porto Rico (nota: nenhum banco envolvido), estavam 2 portugueses a falar com um argentino e este revelou que o livro da sua vida era, precisamente, o crime do Padre Amaro. Por coincidência, os dois portugueses eram de Leiria. O seu interlocutor ficou verdadeiramente fascinado com o (pouco) que ainda sobrava da Leiria, com destaque para a Farmácia do "Carlos", em frente à Sé. Uns anos mais tarde, veio a Portugal e lá foi de "expresso" fazer a sua peregrinação a terras do Lis.

ana disse...

Que história tão gira! Obrigada.´

Este é para mim o melhor livro do Eça e a seguir "A Relíquia", depois vêm outros que não vou enumerar.

A Paula Rêgo fez uma série de telas fantásticas e algumas medonhas sobre este livro, não sei se é o livro que ela gosta mais. Li o catálogo da exposição há alguns anos, não me lembro.

Julgo que ela não pintou a personagem que entra apenas numa página (se não me falha a memória) "a fazedora de anjos", achei o nome lindo para uma profissão tão horrorosa!