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quarta-feira, 15 de julho de 2009

Biografias, autobiografias e afins - 39


Ian Gibson, irlandês especialista em cultura espanhola, já se tinha debruçado sobre Lorca - Vida, pasión y muerte de Federico García Lorca ( 1997 ) , e agora neste Lorca y el mundo gay dedica-se ao perfil mais estritamente biográfico do poeta dos anos de juventude até à sua morte.
Embora o título me pareça algo abusivo, mas admito que comercialmente eficaz, o autor desenvolve a tese de que a homossexualidade de Lorca é fundamental para compreender a obra e o fim trágico do autor. Uma coisa é certa, não há dúvida nenhuma que após o assassínio do poeta, a família ( especialmente os irmãos Francisco e Isabel ) não pouparam esforços para evitar qualquer referência a esse tema, havendo um acordo tácito com os investigadores que pretendiam acesso ao espólio do poeta. Aliás, esta postura não é caso único, tanto em Espanha como por cá...
Além de discorrer sobre a obra e analisar versos em que salta à vista a tensão homossexual, Gibson fala também das várias ligações amorosas de Lorca, já todas mais ou menos conhecidas: o poeta Emilio Prados, o músico Gustavo Durán e obviamente com o bissexual Salvador Dalí...
Actualmente, a postura familiar é outra: Laura García Lorca, sobrinha do poeta, e actual representante da família, admite que o seu pai e a sua tia Isabel silenciaram a homossexualidade do irmão, mas sobretudo para que a morte de Lorca não perdesse o carácter político que teve, receando a família que se perdesse a noção de que o assassinato do poeta foi um crime político, embora houvesse também muito desprezo dos nacionalistas pela orientação sexual de Lorca.
- Lorca y el mundo gay, Ian Gibson , Planeta Editora, 2009 .

3 comentários:

Anónimo disse...

O assassinato de Lorca é óbvio que teve a ver com a sua homossexualidade, mas não deixa de ter um carácter eminentemente político.
M.

Anónimo disse...

Como se do lado dos "Vermelhos" não houvesse também homofobia... Até entre nós ou nunca ouviram falar de Júlio Fogaça?

Anónimo disse...

Claro que ouvi. Se calhar Álvaro Cunhal não teria chegado a Secretário-Geral do PCP...
Só que em Espanha os chamados "Vermelhos", como também eram conhecidos os Republicanos, era uma misturada que ia desde fulanos conservadores liberais até anarquistas. Não eram só comunistas que têm aquela moral obtusa.
M.