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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Redescobrindo Alphons Mucha


Estive recentemente em Praga, onde redescobri Alphons Mucha. Lembro-me de em miúdo haver umas reproduções de posters Art Nouveau lá em casa: uma “Tosca”, que descobri hoje ser um design de 1899 do pai do poster gráfico italiano, Adolfo Hohenstein, e um de bicicletas que a memória não me permite identificar. Muito mais tarde, ao ganhar maior familiaridade com o movimento Art Nouveau, vim a apreciar a liquidez do traço de Mucha, a par da perfeição “geométrica” das suas decorações. A sua vida é um bom exemplo de captura das oportunidades certas no momento certo.

Alphonse Mucha nasceu a 2 de Julho de 1860 em Ivančice, na Morávia (hoje parte da República Checa, na altura província integrante do império Austro-Húngaro). Os seus dotes vocais permitiram-lhe chegar à capital provincial Brno para fazer o liceu assente no canto, deixando para trás a sua paixão pelo desenho. Entretanto e em paralelo, foi pintando cenários para teatro na Morávia. Em 1879, aos dezanove anos, foi para Viena, a capital do império, para uma destacada empresa de design teatral. Infelizmente, um incêndio destrói o negócio em 1881 e Mucha regressa à Morávia, ocupando-se em free-lance de retratos e trabalhos decorativos.

São estes trabalhos que chamam a atenção do Conde Karl Khuen de Mikulov, que lhe pede para decorar o seu palácio; impressionado com os dotes do jovem, torna-se seu patrono e financia-lhe a edução formal na Academia de Belas Artes de Munique. Em 1887, Mucha muda-se para Paris, onde continua os estudos e faz ilustrações para revistas e publicidade.

Estamos perto do Natal de 1884 quando Mucha entra por acaso numa tipografia em Paris onde, de repente, havia uma nova encomenda urgente: um poster para a actriz Sarah Bernhardt na sua nova peça, “Gismonda”. Mucha oferece-se para a fazer nas duas semanas pedidas e, a 1 de Janeiro de 1885, o seu poster inunda as ruas de Paris. O sucesso foi imediato e a estrela teatral ficou tão satisfeita que assinou um contrato a seis anos com o jovem artista de 24 anos.

Os anos seguintes vêem-no a produzir múltiplos posters para teatro e publicitários. Em 1899, publica “Le Pater”, uma obra em que examina o oculto na oração “Pai Nosso”. Entre 1906 e 1910, visita os EUA, com a mulher. A sua filha nasce em 1909 em Nova Iorque, e mais tarde terão também um filho. Regressado a Praga, dedica-se a decorar edifícios notáveis. A independência da Checoslováquia, na sequência da Primeira Grande Guerra, faz-lhe chegar o convite para desenhar os selos e as notas da nova nação. Anos depois, o seu “Épico Eslavo” retrata a história e valores do povo eslavo, e é oferecido à cidade de Praga em 1928. Nos anos 30, compõe um enorme vitral para a Catedral de S. Vito, no Castelo de Praga. Fora do mundo artístico, funda a maçonaria checa.

A ocupação da Checoslováquia pelas tropas nazis em Abril de 1939, faz com que Mucha seja dos primeiros a ser capturado e interrogado pela Gestapo. No decurso dos interrogatórios, apanha uma pneumonia. Fragilizado, regressa eventualmente a casa, onde morre a 14 de Julho de 1939, com 78 anos de idade.

Deixo-vos algumas das suas imagens.

Gismonda, o primeiro poster para Sarah Bernhardt


La Dame aux Camelias, outra vez Sarah Bernhardt

Poster para a presença do Império Austro-Húngaro na Feira Internacional de Paris, 1900
(muito apropriado, dado que estou a ler "The Vertigo Years - Change and Culture in the West, 1900-1914", de Philipp Blom)

Anúncio aos cigarros "Job"
Detalhe do vitral na Catedral de S. Vito, no Castelo de Praga

Vitral na Catedral de S. Vito, no Castelo de Praga

Detalhe do vitral na Catedral de S. Vito, no Castelo de Praga

3 comentários:

LUIS BARATA disse...

Artista muito admirado aqui no Prosimetron.

Anónimo disse...

Yes! E tem uma expo até final do mês em Salamanca.
M.

ana disse...

Gosto imenso.
Boas férias e boa viagem.