Prosimetron

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sábado, 5 de setembro de 2009

Retrato e reverso

Todos, os que temos vista, conhecemos a nossa face. Olhamos para um espelho e, com olhos mais ou menos críticos, mais ou menos reais, construímos e temos a percepção de uma imagem que dizemos que é a nossa. Dizemos que construímos e temos a percepção de uma imagem, porque muitas e muitas vezes olhamos para um retrato e não nos conseguimos reconhecer. Existem dias que olhamos para o espelho e julgamos ver outra pessoa que não nós... Mas na verdade somos nós que estamos na face do espelho... somos nós que estamos no retrato.

Dürer pintou dezenas de retratos e uma dezena de auto-retratos. Todos eles me deixam sempre um encanto. Dürer é o pintor que me acompanha desde que comecei a olhar para a pintura. É, até hoje, o único pintor que me obrigou a fazer uma viagem de oito horas só e exclusivamente só, para ver uma exposição que lhe era dedicada. Só permaneci nesse país e nessa cidade oito horas das quais seis foram a ver a exposição. Já programei outras viagens para ver outras exposições deste e de outros pintores, mas fiquei mais tempo nessas viagens, apreendi muito de todo o resto.

Em Wien (Viena, Áustria) existe um grande acervo da obra de Albrecht Dürer.

No Kunsthistorisches Museum existe um quadro que me prendeu a atenção. Nem sequer é o dos mais bonitos, nem sabemos quem é o felizardo que lá está retratado, nem por que é que foi retratado! Vão dizer os que me conhecem... porque é louro... não, nem por ser de um jovem louro. É que existem duas partes no mesmo rosto que não se integram. Quem olha esta boca não imagina aquele olhar... e vice-versa: Isso fez-me lembrar uma imagem que conheço bem...

Mas não foi por isso... certamente existe uma história em roda deste quadro... e eu próprio construi uma outra pensando no reverso do quadro! E qual será esse reverso?
Desafio: qual é o reverso deste retrato?

Existe um ensaio publicado por A. H. de Oliveira Marques que se chama "Retrato e Reverso de Portugal". A esse ensaio fui pedir emprestado o título para esta crónica.

4 comentários:

Anónimo disse...

Post fantástico. É verdade, quando vemos uns olhos imaginamos uma cara que, normalmente, não tem nada a ver com a realidade. Muito apropriado a este quadro.
O mesmo se passa com a voz. Sei de histórias giríssimas, passadas ao telefone.
Quando ao reverso não me pronuncio.
M.

Anónimo disse...

O melhor mesmo é consultarem o ensaio de A. H. de Oliveira Marques.
M.

Anónimo disse...

"Os homens são de mediana estatura, mais sobre o pequeno do que sobre o alto, mais sobre o moreno do que sobre o louro, de aspecto triste, ao que ajuda ainda o facto de - sendo por lei proibido vestirem panos de seda - envergarem trajes de baeta(1) e de outros tecidos semelhantes que não causam bom aspecto, tanto mais que usam sempre o chapéu com os borzeguins(2). (...")

«RETRATO E REVERSO DO REINO DE PORTUGAL» - 1578-1580

(Extractos) in A.H. de Oliveira Marques, Portugal Quinhentista (ensaios)
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.com/2007_12_01_archive.html...

Mais não digo...
A. R.

Jad disse...

Frio...Frio...Frio