Prosimetron

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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Doces, e claras águas do Mondego.

XXXIII

Doces, e claras águas do Mondego,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida, e pérfida esperança
Longo tempo após se me trouxe cego

De vós me aparto, sim, porém não nego
Que ainda a longa memória, que me alcança
Me não deixa de vós fazer mudança,
Mas quanto mais me alongo mais me achego.

Bem poderá a Fortuna este instrumento
Da Alma levar por terra nova, e estranha,
Oferecida ao mar remoto, ao vento.

Mas a Alma, que de cá vos acompanha,
Nas asas do ligeiro pensamento
Para vós, Águas, voa, e em vós se banha.

Luís Vaz de Camões, Rimas Várias de Luís de Camões Tomo II (II centuria ), Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1972, p. 232, Edição Fac-similada da edição de 1685, (comentada por Manuel de Faria e Sousa). [Transcrição actualizada].

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