Prosimetron

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domingo, 14 de março de 2010

talvez não amanheça


soneto destruído

talvez logo na berma de uma estrada
um par se beije transtornadamente
e o destino os separe de repente
entre as duas e as três da madrugada

talvez a lua fria os desinvente
e só lhes traga sombras e mais nada
e por saída só lhes dê a entrada
para o túnel da noite à sua frente

talvez então as faces se desolem
talvez depois em cinza solidão
a aurora ponha luto, talvez colem
as nuvens o seu dorso rente ao chão

talvez por não ousar ninguém mereça
o que viveu. talvez não amanheça.

Vasco Graça Moura
(Sombras com Aquiles e Pentesileia, Lisboa, Quetzal, 1999, p. 35-36)

6 comentários:

MR disse...

Não sou grande apreciadora de VGM, mas gostei deste poema.
E gostei da foto.

APS disse...

É um bom "fabbro", o VGM. E é um bom poema, este.
E, já agora, uma pequena história que estive para contar na E.P.Torga/Lacerda.
Alguém,muito próximo afectivamente de Torga, comunica-lhe que vai casar com alguém que fazia versos e de quem Torga não gostava particularmente. O autor de "Bichos" fica muito sério,cala-se uns segundos, e depois diz:
"Pois é, quem compra o campo também compra as pedras..."

ana disse...

Leio muitas vezes a poesia de Vasco Graça Moura. Gosto bastante dele.
Este soneto é tristemente lindo. A escultura também é boniota.

ana disse...

bonita

MR disse...

E Torga tinha razão.

APS disse...

Completamente!...