Prosimetron

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quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pastrana e Paris





E, como deixei ontem indiciado (ameaçado? :), aqui fica um apontamento sobre a peça restante que está em exibição no MNAA, até 12 de Setembro, igualmente de modo equívoco relacionada com D. Afonso V.

Trata-se de manuscrito pertencente à Biblioteca Nacional francesa, denominado Grande Armorial Equestre do Tosão de Ouro (o pequeno também lhe pertence...). Para além de séries de armas de algumas regiões europeias, este armorial do séc. XV é especialmente notável pelos manequins heráldicos, equestres (daí o nome), representando soberanos, os pares de França e cavaleiros da Ordem fundada por Filipe o Bom de Borgonha, para celebrar o seu casamento com a nossa Infanta D. Isabel.

Deixo a imagem que consegui na net, sendo certo que é uma cópia e não uma digitalização do original (não verifiquei, mas faz-me lembrar a ilustração usada numa tradução publicada em 1951 de um interessante Resumo da Ciência do Brasão, de René Le Juge de Segrais).

É esta imagem tradicionalmente identificada com D. Afonso V, não sei se por via da primeira datação (podendo ir até 1461), proposta pelo seu primeiro editor (disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k503935j), ou se por confusão com uma pequena inscrição (que consta do original) em que se refere um Rei Afonso, que todavia é Afonso Henriques.

Em 2001, Michel Pastoureau e Michel Popoff publicaram, nas edições du Gui, uma reprodução facsimilada deste armorial. Neste estudo, que é louvavelmente citado na nota respectiva do Catálogo da Exposição, assinada pelo Saúl António Gomes, amigo de muitos neste blogue, com boas razões, apontam aqueles basilares autores da Nova Heráldica para um intervalo provável de feitura bastante mais estreito, entre 1433 e 1440, com picos de probabilidade em 1435 e 1436.

Não curando da possibilidade, aliás a mais provável na minha opinião, de se estar apenas perante representações ideias, do Soberano e não de um determinado soberano, a querer dar-se nome a este Rei de Portugal, o mesmo seria o eloquente D. Duarte e não um rei que, na melhor das hipóteses, teria 8 anos na data de feitura desta imagem.

Fica aqui a imagem do Rei de França e uma ligação para a página das edições du Gui (http://www.culture-cadeaux.com/la-toison-d-or-c-656_686.html), que contém outras imagens deste magnífico armorial, que muito gostei de sentir bem perto, separado apenas por um vidro.



4 comentários:

APS disse...

Obrigado.

MR disse...

Idem.

ana disse...

É lindíssimo!

LUIS BARATA disse...

Belas imagens e questões "identitárias" bem interessantes. É bem provável a tese de representações ideais dos soberanos da Cristandade e não de particulares soberanos.