Prosimetron

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A propósito de Agustina e Fanny Owen




Pro memoria, reporto-me a um “post recente” no qual a nossa querida MR (Maria Republicana? :) se interrogava sobre o sentido da afirmação, imputada a Agustina, da essência viciosa da alma.

Naquela situação bem concreta e vivida por pessoas de carne e osso, a alma (leia-se a cabecinha de cada um), tal como o tabaco, corrói, causa tumores e mata. O filme, o livro, a história, tudo narra dois suicídios, morais e físicos, que simultaneamente decorrem e têm os seus desenlaces cronologicamente separados por pouco mais de um mês.

Não creio, todavia, que tal baste para imputar à própria Agustina a defesa da bondade da afirmação posta na boca de Fanny Owen (declaração de interesses: tia-pentavó dos meus filhos :).

Há tempos, li uma história similar narrada por Umberto Eco. Refere o mesmo que, certo dia, alguém lhe terá perguntado se realmente acreditava numa afirmação sua, a de que a felicidade é ter aquilo que se tem (ou qualquer coisa parecida). Eco regista ter ficado muito indignado, asseverando nunca ter escrito o que manifestamente considerava um disparate.

Livros bem vasculhados, encontrou Eco realmente o dito em causa, mas proferido por um místico que estava, nesse momento, em contemplação da Divindade. E que, muito naturalmente, professava a felicidade absoluta que naquele momento sentia pelo que realmente tinha.

Em suma, o contexto faz a citação. Mas há que dar liberdade ao escritor de escrever propositadamente as suas asneiras ou, como me parece ser o caso naquela tragédia de 1852-1854, os seus enigmas.

4 comentários:

MR disse...

Acho que Maria Republicana me assenta bem.
Para mim, a alma é «a cabecinha de cada um».
Acho que sim, «o contexto faz a citação», só que eu quando me cheira a Agustina-escritora fico logo de pé atrás. Por outro lado, como pessoa, pelas entrevistas, até lhe acho graça.
GOSTEI DO SEU POST. :)

JP disse...

Obrigado, MR e ainda bem que gostou (do nome, claro!) :) Mas essa cabecinha é precisamente o que leva àquele drama. Claro que resta por provar que a Francisca estava ciente disso quando diz aquela frase no baile. "Não me trate como uma ignorante", salvo erro é a resposta ao espanto de Camilo.

LUIS BARATA disse...

Post que me transportou ao princípio dos anos 90 e a conversas tidas na FDL, sob o mote do filme de Oliveira.

LUIS BARATA disse...

E à genealogia dos Costa Pessoa, obviamente :)