Prosimetron

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sábado, 1 de outubro de 2011

Horas Portuguezas por Carlos do Vale Carneiro

Num livro de horas que hoje me chegou às mãos, como lembrança amiga pelo dia que passa, encontrei algumas particularidades que me despertaram a atenção. O vendedor escreveu a indicação, manuscrita, de que o livro continha "2 gravuras de pág. inteira" e qual não é o meu espanto, que não são duas mas sim quatro as gravuras de página inteira que o adornam. A primeira dedicada à Virgem N.ª Senhora (ao lado da folha de rosto); a segunda um Cristo no Calvário (entre as p. 144/145); a terceira representando um padre celebrando missa (236/237); e a quarta a imagem de Santo António de Lisboa (318/319); o que demonstra que o livreiro não lhe prestou grande atenção quando lhe inscreveu a nota. Mas o mais curioso é o que se segue. Algumas folhas encontram-se impecáveis, quase como se o livro nunca tivesse sido usado; outras, pelo contrário, encontram-se de tal maneira "sebentas" (de onde veio o termo de "Sebo" para Alfarrabista, no Brasil) que demonstram o uso quotidiano. Vejam-se os dois exemplos que ilustram este post.
As Regras para bem viver quase não foram lidas enquanto que outras folhas foram "gastas" pelo uso.


Então quais são as orações que mais vezes foram rezadas por este manual?
- "O Exercicio para cada dia" em especial a parte "para se rezar pela manhã";
- O "officio da Virgem Nossa Senhora" repartido pelos sete dias da semana;
- O "officio da Immaculada Conceiçaõ" e em menor grau o "officio do senhor S. José";
- "Saudações de S. Gregório Papa";
- "Devoção á santissima Virgem Maria",
- "Orações devotas..."
e, por fim,
- "Oração para pedir a Deos assista e console a todos os que vivem afflictos"; Oração da pública calamidade"; Oração para pedir a Deos a paciencia nos trabalhos".

Estas três últimas orações poderiam estar na ordem do dia: vivemos aflitos; alguns dizem que estamos perante uma "pública calamidade" (em especial as finanças); e todos queremos ter "paciência nos trabalhos"... É certo que não era bem no trabalho físico do quotidiano da época do livro (teve algumas edições já no séc. XVIII). Mas todos queremos ter paciência nos nossos trabalhos, porque sem ela acaba o nosso sustento de cada dia.
Já agora, uma última nota. Não havia muita água na casa do proprietário deste livro. Aparentemente lavava poucas vezes as mãos, ou seria um comerciante que tinha as mãos sujas de tanto lidar com as moedas em circulação?

Agradeço publicamente a lembrança recebida.

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