Prosimetron

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sábado, 23 de agosto de 2008

Crónicas de Clarice - 5

ESCREVER AO SABOR DA PENA ( 14 de Março de 1970 )

Esta frase me ficou na memória e nem sequer sei de onde ela veio. Para começar, não se usa mais pena. E depois, sobretudo, escrever à máquina, ou com o que seja, não é um sabor. Não, não estou me referindo a procurar escrever bem : isso vem por si mesmo. Estou falando de procurar em si próprio a nebulosa que aos poucos se condensa, aos poucos se concretiza, aos poucos sobe à tona- até vir como num parto a primeira palavra que a exprima.


- Clarice Lispector, A DESCOBERTA DO MUNDO, Nova Fronteira, 1984.

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