Prosimetron

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domingo, 30 de agosto de 2009

Em busca de uma época perdida?

A localidade normanda de Deauville dispensa apresentações exaustivas. Situada na chamada Côte Fleurie da Baixa-Normandia, mantém o estatuto de uma das mais belas estâncias francesas, não obstante as condicionantes climatéricas pouco favoráveis em comparação com as das concorrentes mediterrânicas. Graças à iniciativa do Duque de Morny, meio-irmão de Napoleão III, iniciaram-se em 1858 as obras para a construção de um “reino de elegância” a ultrapassar a beleza da vizinha Trouville. Em apenas quatro anos, surgiu então Deauville com palácios e moradias em estilo neo-normando. Concluída a ligação ferroviária a Paris, a aristocracia da capital francesa e do mundo inteiro descobriu um novo local de requinte.
As primeiras décadas do século passado consolidaram a posição de Deauville que viu nascer hotéis de luxo, um casino e o famoso passeio Les Planches que parcialmente acompanha a praia de 3 km de comprimento. Do rol de hóspedes notável refiram-se Josephine Baker, Coco Chanel, Mistinguett, Tristan Bernard e André Citroën. A literatura dificilmente podia ignorar Deauville ou outras referências turísticas próximas como Cabourg, onde Proust, poucos anos antes, procurava o tempo perdido no quarto nº 414 do Grand Hôtel desta localidade ...

O que resta destes tempos áureos? A arquitectura testemunha as diferentes épocas de vivência social, desde a traça neo-normanda, a elegância do estilo Haussmann, a delicadeza da Belle Époque aos caprichos des Années Folles. As autoridades locais orgulham-se de uma Deauville versátil que pretende oferecer as comodidades modernas ao público, nunca desprezando o passado glorioso. Tal modernidade manifesta-se em vários aspectos, quer negativos, quer positivos: a globalização “invadiu” a pequena cidade e tornou, lamentavelmente, o centro numa réplica do Faubourg St. Honoré parisiense, onde as grandes marcas francesas e internacionais se instalaram. As montras das lojas de Deauville em nada diferem das congéneres em Paris, Milão ou Roma. No entanto, e a par desta descaracterização, existe um conjunto de medidas bem-sucedidas: o desporto equestre, uma das modalidades praticadas por excelência em Deauville, continua a atrair os grandes nomes da especialidade no hipódromo Clairefontaine.

E, claro, não nos esqueçamos do contributo significativo da Sétima Arte: dos vários festivais, destacam-se naturalmente as jornadas dedicadas ao cinema americano que, desde 1975, decorrem todos os anos no início de Setembro. O glamour volta à Normandia, e Deauville equipara-se a uma “sucursal” de Hollywood.
Uma última referência cinematográfica, indispensável na óptica de quem se apaixonou pelas películas dos anos 60: em 2006, por ocasião do 40º aniversário do filme “Un homme et une femme”, a autarquia decidiu homenagear o realizador desta obra-prima. A Place Claude Lelouch recorda, desde então, a passagem de Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant pela cidade de Deauville que, segundo o guia oficial publicado pelo município, ficará eternamente associada ao romantismo. Outra faceta (moderna?) de Deauville...

4 comentários:

Jad disse...

Obrigado. A viagem correu bem? Bom regresso.

ana disse...

Gostei do roteiro que delineou. Bom regresso.

MR disse...

Já regressou? Gostou?
Já coloquei uma das músicas de Um homem e uma mulher em «Os meus franceses». Gostava de rever este filme, mas parece-me ser impossível pois Claude Lelouch renegou-o. Era fraco, mas representativo de uma época e com dois actores que adoro: Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant.
E, claro, espero um dia ir a Deauville.

Miss Tolstoi disse...

Não conheço a Normandia. Gostou?