Prosimetron

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

1610-2010

circa 1590.

Não posso deixar acabar o ano sem mencionar o Vert galant, já que 2010 também foi o seu ano, com comemorações por toda a França deste que foi um dos seus mais populares reis, celebrizado na literatura e nos cancioneiros.
Muitos foram os colóquios e as exposições alusivas a Henrique IV de França (1553-1610), evocando-se os 400 anos da sua morte às mãos do fanático Ravaillac.
Parece-me, porém, que apesar de toda a atenção dedicada ao primeiro rei Bourbon a cabeça dele continua desaparecida. Embora já tenha passado o Halloween, passo a explicar: em 1793, quando está instalado o Grande Terror, a época mais sangrenta e alucinada da Revolução Francesa, uns revolucionários mais fervorosos decidem profanar os túmulos reais franceses, designadamente os muitos que se encontravam em Saint-Denis, a necrópole real. Mesmo os mortos há muitos séculos foram desenterrados e desfeitos, aquilo que se sabe, só que com Henrique IV foi a surpresa: tinha sido muito bem embalsamado e o corpo estava incorrupto ( se fosse muito dado à religião, já se imagina um possível desfecho...).
Logo se decidiu expô-lo na vertical, e assim esteve para visionamento das massas durante dois dias após o que foi para a vala comum juntamente com os seus antepassados.
Em 1815, Luís XVIII, descendente de Henrique IV( como quase todos os monarcas europeus contemporâneos ), manda desenterrar a dita vala comum e fazer novos túmulos para substituir os profanados, descobrindo-se então que alguém tinha cortado e levado a cabeça de Henrique IV.
O mistério permanece insolúvel até que a 31 de Outubro de 1919 (reparem na data...) é vendida em leilão em Paris a "cabeça mumificada de Henrique IV" por uns modestos 3 francos. O comprador tenta autenticá-la, e alguns historiadores concordam que é a cabeça do rei (a cicatriz no lábio, mas sofretudo a ferida mortal inflingida por Ravaillac), mas na falta de provas concludentes o Louvre não aceita a doação proposta pelo recém-proprietário! O macabro objecto fica na posse dos herdeiros deste, desaparecendo novamente em 1947. Duvido que desta vez volte a aparecer em leilão público e legal...
Para desanuviar, uma das canções dedicadas ao le bon roi Henri :

1 comentário:

APS disse...

Uma história muito curiosa e uma cantiga linda, de tão simples.
Obrigado