Prosimetron

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Leituras no Metro - 35


Renoir - Rapariga com gato
Óleo sobre tela, 1876
Washington, National Gallery of Art


«Um dia, a caminho de casa, foi atacado por uns vagabundos. Tentou fugir, mas apesar de ter boas pernas foi apanhado e manietado contra uma paliçada. De repente, um dos malfeitores reconheceu-o. "É o senhor Renoir!" O meu pai recuperou o fôlego, orgulhoso de ser tão conhecido. O outro esclareceu: "Eu já o vi com a Angèle. Não vamos fazer mal a um amigo da Angèle..." E acrescentou: "Este bairro não é seguro. Vamos acompanhá-lo até casa!" De facto, Angèle, o delicioso modelo do quadro da mulher com gato ("Posava como uma deusa"), pertencia àquele meio. Tinha por Renoir uma devoção comovedora. Um dia, percebendo que ele não tinha dinheiro para pagar a renda, ofereceu-se para "ir dar uma volta pela alameda". O meu pai teve muita dificuldade em recusar aquela ajuda inesperada. Enquanto posava para O almoço dos remadores, a rapariga conquistou um jovem de boas famílias que se casou com ela. Alguns anos edpois, veio visitar o "patrão". Vinha acompanhada do marido: um perfeito casal de burgueses da província, vestidos ed maneira convencional, modos formais, linguagem contida. Ao fim de algum tempo, ela descontraiu-se: "O Armand sabe que eu posa nua e (corando)... também sabe que eu andava em más companhias!" Enquanto Armand se perdia na contemplação de um quadro, ela disse ao ouvido de Renoir: "Mas não sabe que eu dizia merda!"»
Jean Renoir - Pierre-Auguste Renoir, meu pai. Lisboa: Bizâncio, 2005, p. 166-167


Renoir - O almoço dos remadores
Óleo sobre tela, 1881
Washington, Phillips Memorial Gallery

1 comentário:

APS disse...

Simplesmente delicioso!