Prosimetron

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O que estou a ler - 1. c)

John Singleton Copley (1738-1815), Richard Heber, 1782, óleo sobre tela, Yale Center for British Art.


(...) Mas como é que se chega a esses milhares de volumes que acabam por colocar tantos problemas ao seu proprietário? As explicações são diversas- e não mutuamente exclusivas-consoante a categoria particular de bibliómano em causa. Porque a bibliomania, enquanto termo genérico, cobre realidades bastante diferentes. Realidades que podemos definir em dois tipos principais: a dos coleccionadores e a dos leitores inveterados.
Os coleccionadores dividem-se. por sua vez, em especialistas e "acumuladores".

(...)

Os "acumuladores" dão a sensação de terem perdido todo e qualquer limite quantitativo e de terem renunciado à leitura das obras acumuladas. Galantaris cita o caso de Sir Richard Heber(1774-1833), que possuía 300.000 volumes repartidos por cinco bibliotecas, em Inglaterra e no continente, sendo que cada uma delas invadiu cinco residências ( "os livros eram omnipresentes e formavam verdadeiras florestas, com alamedas, avenidas, pequenos bosques, caminhos em que havia o risco de chocar com as pilhas e montes que transbordavam das prateleiras, ocupavam as mesas, os móveis, o soalho..."). Quanto a Antoine-Marie-Henri Boulard (1754-1825), antigo notário e autarca do oitavo bairro de Paris sob Napoleão. começou por salvar os livros que tinham ido parar ao mercado, depois de confiscados ou desviados durante a Revolução, e acabou por encher nove ou dez prédios adquiridos para neles instalar os seus 600.000 volumes. Consta que a respectiva venda, organizada pelos filhos entre 1828 e 1832, provocou uma tal saturação nas livrarias e alfarrabistas que os preços dos livros em segunda mão vieram por aí abaixo durante vários anos.

(...)

A outra grande categoria de bibliómanos é a dos leitores inveterados. Não quer isto dizer que os "acumuladores" não leiam; acontece que o seu interesse principal é outro. E também não quer dizer que o leitor inveterado não acabe por acumular muitos livros, mas no seu caso trata-se mais da consequência da sua obsessão do que de um desejo original. De início, há na casa do leitor inveterado uma fome de leitura e uma curiosidade abrangente, o que não implica necessariamente uma acumulação de livros, pois estes podem ser consultados na biblioteca, pedidos de empréstimo ou revendidos, se por acaso forem comprados. Mas o bibliómano leitor quer guardar o objecto, mantê-lo à sua disposição.

- Jacques Bonnet, bibliotecas cheias de fantasmas, Quetzal, 2010, p.28,33-34.

E fiquei a saber também nesta parte deste livro fascinante que o Karl Lagerfeld é também um grande acumulador: 300.000 livros, espalhados pelas suas cinco casas. Se considerarmos que a Biblioteca Nacional de Portugal tem um milhão de volumes, ficamos com uma ideia da desmesura destas bibliotecas particulares.

Ainda assim, estes números empalidecem face aos da maior biblioteca do mundo: a do Congresso dos Estados Unidos: 32 milhões de livros, 61 milhões de manuscritos, 14 milhões de fotografias etc etc.

11 comentários:

MR disse...

Eu pertenço à categoria dos «leitores inveterados», o que não quer dizer que não acumule. Modestamente...

MR disse...

Não sabia dessa paixão de Karl Lagerfeld. E a biblioteca dele tem alguma especialidade?

APS disse...

Interessantíssimo, LB.

LUIS BARATA disse...

APS: Obrigado!

M.R.: O Lagerfeld tem uma valiosa colecção de livros de história do traje, moda e afins, mas também milhares de livros de arte. E é um fotógrafo notável-vou ver se posto coisas dele.

MR disse...

Não sabia que a Biblioteca do Congresso tinha uma tão grande colecção de fotografias. Deve ser também a maior colecção de fotografia...

MR disse...

Luís, obrigada pela informação quanto ao Lagerfeld.

Miss Tolstoi disse...

Já comprei o livro, mas ainda não o abri.

Anónimo disse...

Cara Miss Tolstoi: Livros fechados não fazem cultura! O pior é o tempo...
J

Miss Tolstoi disse...

Pois não. Mas olhe que eu não sou como aqueles que colocam os livros nas prateleiras sem os abrir e, às vezes, até com o plástico envolvente. :)
Estou a guardar o livro para entremear com as festas natalícias.

Miss Tolstoi disse...

E o Jad, já o leu?

Anónimo disse...

Gosto muito de ler meus livros favo- ritos.Já li uns 300 livros!Empresto daqui da Biblioteca Pública.
Para comprá-los ainda custam caro,e,
por isso mesmo,o empréstimo ainda é a opção para quem quer ler seus vári-
os livros preferidos sem ter que gas-tar muito nas livrarias.
Tem os sebos,lojas que vendem li- vros usados,onde compra-se mais ba- rato.Mas,porém,são desatualizados.
Livros novos,inéditos e lançamentos tem a vantagem de serem atualizados baseados em pesquisa histórica mais
recente.
As vezes,vocë até encontra livros recém-lançados em 'sebos',mais bara- tos...Mas só um ou dois anos depois da data de edição do lançamento.
Os assuntos preferidos de minha leitura sao 'História antiga'(Civili-
zações perdidas,Atläntida e Lemúria,
Egito),'História medieval'(Grandes descobertas e exploraçoes,povos bár- baros,cruzadas,templários...),'Ar-queologia','Religião','Ufologia',His-tória Moderna(Guerras Mundiais,Nazis-mo,ditadores,Exploração espacial),'O-cultismo','Ficção Científica'...

FRANCO DA LUZ CAIUT
(franco.caiut@hotmail.com)
Curitiba-Paraná-BRASIL