Prosimetron

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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Consolação



CONSOLAÇÃO

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa onde vai no tempo dividido. Já não é meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de facto o amou?

Procura o seu igual no voto dos olhares. O espaço que percorre é a minha fidelidade. Ele desenha a esperança e ligeiro despede-a. Ele é preponderante sem tomar parte em nada.

Vivo no seu abismo como um feliz destroço. Sem que ele o saiba, a minha solidão é o seu tesouro. No grande meridiano onde se inscreve o seu curso é a minha liberdade que o escava.

Nas ruas da cidade caminha o meu amor. Pouco importa onde vai no tempo dividido. Já não é o meu amor, todos podem falar-lhe. Ele já não se recorda. Quem de facto o amou e de longe o ilumina para que ele não caia?


René Char

In: Este fanático das nuvens / trad. Yvette K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1995, p. 93

Também ontem agarrei num livro de René Char... coisa que o Prosimetron faz... gostei deste poema. Aqui fica!


(imagem: Lisboa, Rua Garrett, 2 de Novembro de 2009, 19:10 h)

2 comentários:

APS disse...

O pior são as traduções...e basta imaginar traduzirmos Herberto Helder para francês ou inglês...
mesmo assim vou tentar,até porque
um poeta do signo Gémeos ou é binário ou tem que ter um contraponto. Cá vai:

"Quem,melhor que um lagarto amoroso,/Pode revelar os segredos terrestres?/`
Ó etéreo e gentil rei dos céus/
Porque não fazes na minha pedra o teu ninho?!"

Com a imperfeição terrestre dum tradutor bissexto,aqui vai cordialmente.

APS disse...

Acrescento,para os curiosos da Astrologia,como ciência "irracional",que René Char que era do signo Gémeos(3ºdecanato e,portanto,mais marciano,como F.Pessoa)tinha o ascendente em Leão.