Prosimetron

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Entalados - 1


Escultura assinada Farinha. Av. da República, 108.
No outro dia, o Jad falou aqui dos "entalados", a propósito de uma exposição no Museu da Electricidade.
Nos anos 40 e 50 do século XX, houve uma disposição camarária que determinava que os prédios edificados em Lisboa tinham de ter uma obra de arte na sua fachada. A maioria das vezes o local escolhido para a sua colocação situava-se entre a verga da porta principal e a sacada que lhe ficava por cima. O arquitecto Keil Amaral dedicou ao assunto o capítulo «Sobre mulheres entaladas e a intervenção dos artistas plásticos na dignificação da cidade» do seu livro Lisboa: uma cidade em transformação (Lisboa: Europa-América, 1960). A partir daqui, passou a utilizar-se o termo "entalado" para se designar essa escultura, normalmente representando uma figura feminina.
«O surto dessas confrangedoras esculturas deu-me que pensar.» afirma Francisco Keil Amaral que pensou em organizar uma «Associação Protectora de Lisboa e das Mulheres Entaladas entre as Portas e as Sacadas».
«Talvez [o nome] seja um bocadinho extenso e, em verdade, também há homens nas mesmas condições. Mas são poucos. Não sei porquê, as mulheres foram os entes escolhidos para esses sacrifícios – não já sobre os altares propiciatórios, como nos tempos ou nas terras do paganismo, mas sobre as portas dos prédios de rendimento, nesta nossa cidade onde impera o cristianismo, o mau gosto… e a instituição do prédio de rendimento.
«Vítimas da crueldade de arquitectos sem talento e sem coração, mal conseguem iludir o suplício a que se encontram submetidas. Bem procuraram os escultores disfarçar-lhes o sofrimento sob a impassibilidade das expressões petrificadas. Mas a incomodidade é manifesta, o sofrimento notório – e por muito menos têm-se criado ligas e associações protectoras.
«Acudam-lhes, portanto! Não percam tempo. Suavizem-lhes o martírio – e acudam à Cidade.»

Vou colocar algumas "entaladas" e alguns "entalados" que podemos encontrar em prédios da cidade de Lisboa.
Bibl.: Júlio César Pereira - «Entalados». In: Dicionário da história de Lisboa. Lisboa: Carlos Quintas, 1994

4 comentários:

Jad disse...

E eu vou adorar recordar as avenidas novas de Lisboa.

LUIS BARATA disse...

Na avenida de Roma há uns quantos exemplos.

MR disse...

Lá virão alguns deles.

ana disse...

Interessante.