Prosimetron

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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma monarquia protestante

Carlos V e Martinho Lutero encontraram-se e confrontaram-se na Dieta de Worms em 1521. O recente post de Luís Barata e a bela ilustração deram conta desta entrevista. Outra figura histórica presenciou a Dieta, o jovem príncipe herdeiro da Dinamarca, Christian. Impressionado pela visão de Lutero, torna-se num defensor da reforma protestante.
Frederico I, pai de Christian, sobe ao trono dinamarquês poucos anos depois, em 1523. Promete ao Reichsrat (Conselho) combater as ideias luteranas, todavia, a reforma “propaga-se” rapidamente na Dinamarca via comerciantes e pastores protestantes. A receptividade da população assenta num descontentamento generalizado em relação ao poder católico instituído. A fragilização da igreja e seus bispos, membros do Reichsrat, não é de todo inoportuna ao soberano que vê a possibilidade de controlar as ambições do clero. Christian empenha-se pessoalmente a favor da nova causa no distrito de Hadersleben (Schleswig), ao impor a todos os sacerdotes a conversão.


O Rat (Conselho), ainda maioritariamente católico, opõe-se assim à eleição de Christian ao trono em 1533 e suspende por um ano a escolha do sucessor de Friedrich, falecido a 1 de Abril desse ano, na expectativa de poder entretanto nomear outro candidato, favorável ao catolicismo. No entanto, o protestantismo enraíza-se no povo dinamarquês. Copenhaga e Malmö (pertença da Dinamarca na época) revoltam-se conra o Conselho juntamente com a cidade luterana de Lübeck, e os lavradores enfrentam a aristocracia, acusada de exigir impostos insuportáveis.
Christian aproveita a vaga de protesto e combate os rebeldes nas cidades e províncias. Em troca, exige do Reichsrat a sua eleição como rei. A nobreza e o clero, salvos da rebeldia, deparam-se com um novo inimigo: o próprio Christian. Em Abril de 1536, os bispos católicos são encarcerados, os bens da igreja confiscados o que triplica o património da coroa.

Christian III recorre à ajuda de Johannes Bugenhagen, com vista a consolidar o protestantismo no seu país. Bugenhagen, amigo de Lutero, é incumbido de organizar a coroação do novo monarca o que constitui um verdadeiro desafio: como é do conhecimento geral, era entendimento da época que a coroação conferia a legitimação divina, e a igreja intervinha em intercessão entre Deus e o rei. Em contrapartida, defendia a nova visão de Lutero uma segregação rigorosa entre igreja e questões profanas. Bugenhagen, não dominando a língua dinamarquesa, celebra a missa de coroação em alemão e não em latim. A cerimónia culmina no juramento de Christian de respeitar e seguir a nova doutrina.
Nasce assim a primeira monarquia protestante.
Imagens: Frederiksborg (Copenhaga); Christian III (retrato da autoria de Jost Verheiden); Johannes Bugenhagen

2 comentários:

ana disse...

Interessante como é hábito.
Ana

LUIS BARATA disse...

E Margarida, a actual monarca da Dinamarca, é a chefe da Igreja Nacional Luterana da Dinamarca.
Muito bem lembrada a presença do herdeiro da Dinamarca em Worms.