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terça-feira, 17 de novembro de 2009

«O sentido da Carta 77»


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Vaclav Havel (2.º a contar da esquerda) e outros membros da Carta 77. A pessoa da direita parece-me ser Olga Havel.

«A Carta foi a primeira manifestação social importante da era Hussak. Congregava escritores e antigos homens políticos, comunistas e sem partido, católicos e protestantes, intelectuais e operários, universitários e representantes da juventude conformista. Sem plataforma política. Era mais um impulso interior que impelia estas pessoas a fazer causa comum – uma preocupação humanitária, uma motivação essencialmente ética. […]
«Ainda me lembro, como se fosse ontem, dos sentimentos com que muitos assinaram o manifesto da Carta, das demonstrações de alegria, de alívio, de orgulho, de exaltação, até de uma euforia libertadora de que fui testemunha. Como se as pessoas se sentissem de repente libertadas de um pesado fardo, saídas de um casulo, animadas por uma renovação de vida, por saber que o tempo da humilhação e da duplicidade tinha chegado ao fim. […]
«É ainda, uma vez mais, a oposição entre o infinito e o finito: o princípio ético segundo o qual os assuntos da colectividade devem ser verdadeiramente os assuntos comuns a todos, que prevalece sobre a questão de saber se é ou não útil redigir e endereçar documentos ao regime actualmente em vigor. O mesmo é dizer que o facto de nos comportarmos como cidadãos livres, conscientes do nosso direito e do nosso dever de “falar sem rodeios”, tem sempre um sentido, por princípio, em qualquer circunstância. Independentemente das repercussões práticas que esse modelo de comportamento possa ter, em tal ou tal momento, no espírito da colectividade.»
Vaclav Havel - «O sentido da Carta 77»
In: Ensaios políticos. Venda Nova: Bertrand, 1991, p. 84, 85, 91

1 comentário:

LUIS BARATA disse...

Por isso é que quando ouço, felizmente cada vez menos, nostálgicos do "socialismo real", até fico arrepiado...