Prosimetron

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Leituras no Metro - 37


Cruz Quebrada: Casa das Letras, 2007

«Daniel Barenboim, o grande pianista e maestro disse: um menino prodígio é uma criança dotada, com uns pais muito ambiciosos.» (p. 51)

«E como a forma exacta da sua morte não tinha sido registada, Mira continuava a morrer um grande número de mortes no nosso espírito e a passar por um grande número de ressurreições para morrer outra vez e outra...» (Vladimir Nabokov)

Há já bastante tempo que andava para ler este livro. Foi agora.
Sérgio Varella Cid nasceu na Rua do Salitre, 78, em Lisboa, a 5 de Outubro de 1935. Filho de músicos, muito dotado para o piano, começa a dar concertos miúdo ainda.
Pianista notável, vive em Londres, depois no Brasil. Jogador, crivado de dívidas, deita mão de todos os expedientes, até falsificando jóias. No Rio de Janeiro, conhece Hosmany Ramos (um cirurgião plástico, assistente de Ivo Pitanguy), do submundo brasileiro (chega a ser preso por tráfico de droga e é acusado de ter morto a própria mulher). Sérgio Varella Cid começa a contrabandear automóveis (Cadillac, Mercedes,...), simula roubos para extorquir dinheiros às companhias de seguros. Saiu de sua casa, em São Paulo (Rua Cuba, 161), com dois homens, num dia no final de Junho de 1981, e nunca mais apareceu. Duas pessoas afirmam tê-lo visto mais tarde, de relance, uma num aeroporto. Seria mesmo ele?
O que leva um pianista de fama internacional, um sedutor e uma inteligência superior (nas palavras de todos o que o conheceram), a envolver-se com marginais?
«Bem vistas as coisas, para lá dos concertos e recitais, realmente acontecidos e recenseados nos jornais e nos programas, mais os casamentos, mais os filhos, esta não é uma narrativa de factos incontestáveis e solidamente documentados. A maior parte deste quase romance biográfico não é mais do que um relatório de opiniões, um desfiar de palpites e de versões que se encontram e desencontram aqui e ali. Inclusivamente nas cartas do próprio Sérgio. » (p. 385)


Rua do Salitre, 78
A casa parece hoje abandonada.

«- Esteve aqui o Heifetz.
«- Quem?
«- E o Prokofiev.
«- Porra! O Prokofiev esteve aqui?
«- E o Arrau e o Michelangeli e o Menhuin...
«- O Stravinski?
«- Muito provavelmente... o Oistrakh...
«- Estás a pintar!
«Continuávamos a falar baixo.
«- Mas quem passa aqui não sabe, não sonha...
«- O Backhaus, o Rubinstein, o Cortot...» (p. 57)

A casa merecia uma lápide a recordar todos estes visitantes.

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