Prosimetron

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sábado, 15 de janeiro de 2011

LENDO O JORNAL AO FIM-DE-SEMANA


Mary Cassatt - Mulher a ler
Óleo sobre tela, 1878–1879
Omaha (Nebraska), Joslyn Art Museum


pântano. cobra. destino. há palavras que soam como um tiro.
há rios que matam como quem escreve a sua morte.
que fazer, então?
soletrar o latim das mãos.
repor o gesto em sua respectiva sombra.
entreagr-se a uma dor auspiciosa. inalterável.
exemplum:
uma vez foi Inverno neste poema.
portanto nunca mais deixou de o ser e ainda ontem lhe senti o frio.
pequeno Aristóteles.
rasguemos porém o falso conforto da palavra. sua ferida nómada.
outros animais, de cio em riste, lhe vêm rasgar pela noite
a exilada filosofia.
trata-se de uma questão de informação.
vorazes linhas com o calor branco das notícias percorrem os dedos
até ao limite máximo da luz:
no campo de El Bureij as mulheres correm para ir às compras.
(ooh, pequeníssimo Aristóteles…)
é aqui, nesta fenda do coração, que celebramos a perfeição dos crimes.
porque não vens a minha casa contemplar a aparência
tomar um copo?

José Oliveira (1959-)
In: Melancolismos. Lisboa: Inapa, 1989, p. 53

2 comentários:

APS disse...

Não conheço o poeta mas, a leitura do poema, deixou-me vontade de ler mais...

MR disse...

Gostei deste livro.