Prosimetron

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

1946 - REFERENDO EM ITÁLIA



No dia 2 de Junho de 1946 , realizam-se em Itália as primeiras eleições livres após duas décadas de ditadura. Um mês antes, a 9 de Maio, o velho Rei Vítor Manuel III , comprometido com o regime de Mussolini a quem havia nomeado chefe do Governo vinte anos atrás quando Il Duce havia marchado sobre Roma com os seus 30.000 camisas negras, abdicara a favor do seu filho Humberto, Princípe de Piemonte, agora Humberto II , Rei de Itália .
O referendo é convocado por iniciativa do Rei Humberto e do seu governo, e no dia designado 25 milhões de italianos votam para decidir se a Itália continuará uma monarquia .
Na noite do dia seguinte, 3 de Junho , o resultado parece favorável aos monárquicos com uma perspectiva de 55% a 60%. Na manhã seguinte, a situação altera-se subitamente, e os monárquicos começam a falar em fraude eleitoral.
No palácio do Quirinal, antigo palácio dos Papas e na posse dos Reis de Itália desde 1861, Humberto II está perplexo- o seu primeiro-ministro, Alcide De Gasperi, tinha-lhe assegurado na noite do dia 3 uma " sólida vantagem para a Coroa ", agora na manhã de 4 de Junho anuncia-lhe a vitória ainda oficiosa dos republicanos e aconselha o rei a abandonar o país para evitar uma guerra civil.
Humberto decide que a sua família sairá de Itália, mas ele ficará aguardando a proclamação dos resultados oficiais pela CORTE DE CASSAZIONE- Supremo Tribunal de Itália. Começam então os supremos magistrados a laboriosa tarefa de contar e recontar os votos, bem como decidir sobre os boletins controversos.
A 6 de Junho, a Rainha Maria José e os quatro filhos do casal, Maria Pia ( 11 anos ) , Vítor Manuel ( 9 anos ) , Maria Gabriela ( 6 anos ) e Maria Beatriz ( 3 anos ) , embarcam em Nápoles com destino a Portugal.
O Rei, espera e desespera em Roma. Educado no culto dos seus gloriosos antepassados, recusa aceitar que termine com ele a soberania da milenar Casa de Sabóia- Condes, depois Duques soberanos de Sabóia, Princípes do Piemonte, Reis da Sardenha no século XVIII, e desde 1861 Reis de Itália.
Foi aliás essa lealdade à dinastia que o impediu de condenar publicamente o seu pai, embora tenha lutado afincadamente para a destituição de Mussolini em 1943, e para a consequente passagem da Itália para o lado dos Aliados .
O Presidente da CORTE DE CASSAZIONE anuncia que os resultados definitivos serão conhecidos no dia 10 de Junho. Nesse dia, a proclamação dos resultados é adiada. Cresce ainda mais a polémica e os ânimos exaltam-se : os italianos do sul, favoráveis à monarquia apelam à divisão do país, e em Nápoles morrem três manifestantes durante os confrontos.
De Gasperi pede incessantemente ao Rei que abandone o país, o que este recusa tal como recusa nomear um regente. A 12 de Junho, ainda antes dos magistrados terem concluído os seus trabalhos, o Governo designa De Gasperi como " Chefe provisório do Estado "...
Humberto hesita sobre o que fazer- destituir De Gasperi conduziria certamente a uma guerra civil, e embora denunciando a ilegalidade cometida pelo Conselho de Ministros aconselha os monárquicos à calma.
A 13 de Junho, sem abdicar, o Rei voa para Portugal a bordo dum quadrimotor Savoia 95 .
Os resultados definitivos são proclamados a 18 de Junho : 10.719.000 para a monarquia, 12.717.000 para a república. Um resultado muito contestado desde então, pesando sobre ele grandes suspeitas de fraude.

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