Prosimetron

Prosimetron

sábado, 9 de agosto de 2008

Mário Cesariny : 9 de Agosto de 1923



Mário Césariny nasceu a 9 de Agosto de 1923. Poeta, Pintor, surrealista e tudo...

de profundis amamus
Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria
Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros
Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes
O Público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
Mário Cesariny



queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma

(Discurso sobre a reabilitação do real quotidiano)

3 comentários:

Anónimo disse...

Estamos todos de parabéns por podermos ler este Poeta.
Ontem - nem de propósito - comprei a «Oferenda II», de Alberto de Lacerda (um amigo de Casariny e também um grande poeta). Deste livro transcrevo o poema «Os mistérios de Londres», escrito em Junho de 1966 e dedicado ao Mário que faria hoje 85 anos:
«A crispação extasiada é a alquimia
«A alquimia é a diagonal
«Do impossível para o possível
«E vice-versa
«Passando continuamente
«Pelo anverso

«Num sentido e no outro
M.

Anónimo disse...

poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

Anónimo disse...

Obrigada pelo surrealismo.