Prosimetron

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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

os poderes da imagem

junto aos calhaus, de azul intenso, um cardo.
vem do velino de uma iluminura
e cresce agora sobre a cercadura
desenhada nas pedras sem resguardo.

heráldica, aguçada, erecta, tardo-
-medieval, assim se desnatura
a simetria agreste da figura
que o vento copiou neste chão pardo

quando virou as folhas ao acaso
de um livro de horas, entre ceptro e esfera
e trabalhos e dias, e deu azo

à reversão estranha que se opera:
a imagem sai do seu suporte raso
e surge no caminho à minha espera


- Vasco Graça Moura, SONETOS FAMILIARES, 2ªEd., Quetzal Editores, 1999.

1 comentário:

Anónimo disse...

É bonito o soneto de Vasco Graça Moura.
Quase parece um copista que desenrola... lentamente... o rolo para descrever o dia-a-dia no scriptorium do seu mosteiro.

Uma boa lembrança para passar numa livraria e adquirir o livro.