Prosimetron

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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Santa Mónica

- Imagem de S. Mónica, séc.XVIII

Hoje, 27 de Agosto, é o dia reservado pela Igreja Católica a Santa Mónica(332-387) , santa padroeira das mulheres casadas e exemplo de mãe cristã, uma vez que terá sido fundamental na conversão do seu filho Agostinho ao Catolicismo,este futuro Doutor da Igreja e também ele canonizado.

7 comentários:

Anónimo disse...

Uma confissão do filho sobre os prazeres do olhar:
«Resta o deleite destes olhos da minha carne, acerca do qual farei uma confissão que os ouvidos do teu templo possam ouvir, ouvidos fraternos e piedosos, a fim de concluirmos o tema das tentações da concupiscência da carne, que ainda me fazem vibrar, gemendo e ansiando ser revestido da minha habitação celeste. Os olhos amam as formas belas e variadas, as cores vivas e alegres. Oxalá estas coisas se não apoderem da minha alma; que dela se apodere Deus que, na verdade, fez estas coisas muito boas. Porque o meu bem é ele mesmo e não estas coisas. Estando acordado, elas não me deixam durante todo o dia, não me dão repouso como me é dado pelas vozes harmoniosas, e às vezes por todas, durante o silêncio. Com efeito, a própria rainha das cores, esta luz que inunda tudo o que vemos onde quer que eu esteja durante o dia, infiltrando-se de mil maneiras, acaricia-me, ainda que me ocupe de outras coisas e nela não repare. E insinua-se com tal veemência que, se de repente desaparece, procuramo-la com saudade e, se por muito tempo se ausenta, entristece o espírito.»
Santo Agostinho
(In: confissões. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, 2000, p. 509, 511)

Descupa esta longa citação. Espero não os ter chateado.
M.

Anónimo disse...

Santa Mónica, mulher exemplar, nem sempre motivou algumas freiras (Mónicas) a fazerem jus da sua santidade.
Mas as vocações não eram exigidas...!

Miss Tolstoi disse...

Depois de ler a «confissão» de Santo Agostinho, não pude deixar de me lembrar de uma tirada genial de Oscar Wilde (já todos descobriram qual é!): «I can resist everything, except temptation.»

Anónimo disse...

Lembrei-me desta passagem de Santo Agostinho que acho lindíssima:

"Nem é para admirar que o ser humano, por ignorância, não possua o livre arbítrio da vontade por escolher o modo recto de agir, ou que – pelo costume que a carne tem de resistir, o qual de algum modo se enraizou na natureza pela vilência da herança da mortalidade – veja o que deve fazer para agir com rectidão e, querendo fazê.lo, não seja capaz de o levar a cabo".

AGOSTINHO, Santo – Diálogo Sobre o Livre Arbítrio, (Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa), Ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda. 2001, p. 333

LUIS BARATA disse...

A M nunca chateia. Gosto muito de Agostinho, até porque viveu a vida muito intensamente, e, ao contrário de tantos santos e doutores da Igreja, sabia bem do que falava...

Anónimo disse...

Obrigada, Luís.
Até pensei em reler umas partes da «Cidade de Deus», que li no 1.º ano da faculdade - e de, surpreendemente, então, gostei. E está traduzido desde há uns anos.
M.

Anónimo disse...

Mais uma confissão de Santo Agostinho, desta vez acerca da paixão pelo teatro:

«Arrebatavam-me os espectáculos teatrais cheios de representações das minhas misérias e das faúlhas do meu fogo. Porque é que um homem quer sofrer aí, quando assiste à representação de coisas tristes e trágicas que, no entanto, não quereria sofrer? E, todavia, enquanto espectador, com isso, quer sofrer a dor, e a mesma dor é o seu prazer. Que coisa é senão uma pasmosa loucura? Com efeito, tanto mais cada um se comove com isso, quanto menos são está de tais afectos, embora seja costume dizer que, quando o próprio sofre, é uma desgraça, e que, quando se compadece com os outros, é compaixão. Mas, enfim, o espectador não é chamado a socorrer, mas apenas a condoer-se, e mais aplaude o actor de tais representações, quanto mais sofre. E, se aquelas calamidades humanas, quer antigas, quer fingidas, são representadas de tal modo que o espectador não sofre, ele vai-se daí embora aborrecido e criticando; se, porém, sofrer, fica atento e chora lágrimas de contente.»
(In: Confissões. Lisboa: Imp. Nac.-Casa da Moeda, 2000, p. 85)

M.