Prosimetron

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Canção com lágrimas e sol

«Je chante toujours parmi
les morts en mai mes amis».
Aragon

Eu canto para ti um mês de giestas
um mês de morte e crescimento ó meu amigo
como um cristal partindo-se plangente
no fundo da memória perturbada.

Eu canto para ti um mês onde começa a mágoa
e um coração poisado sobre a tua ausência
eu canto um mês com lágrimas e sol o grave mês
em que os mortos amados batem à porta do poema.

Porque tu me disseste: quem em dera em Lisboa
quem me dera me Maio. Depois morreste
com Lisboa tão longe ó meu irmão de Maio
que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.

Que nunca mais dirás palavras sem importância
que tinham a importância de serem ditas por ti
que nunca mais farás as coisas importantes
que já não têm importância porque tu não voltas.

Eu canto para ti Lisboa à tua espera
teu nome escrito com ternura sobre as águas
e o teu retrato em cada rua onde não passas
trazendo no sorriso a flor do mês de Maio.

Porque tu me disseste: quem em dera em Maio
porque te vi morrer eu canto para ti
Lisboa e o sol. Lisboa viúva (com lágrimas com lágrimas).
Lisboa a tua espera ó meu irmão tão breve

Manuel Alegre

Quando penso em Maio, este poema vem-me sempre à memória. Na voz do Adriano. E com umas alterações que a versão cantada tem.
Li pela primeira vez A praça da canção quando tinha aí uns 14 anos. Foi amor à primeira... leitura! Nunca tinha pensado, mas talvez seja um dos livros da minha vida.

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