Prosimetron

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domingo, 31 de outubro de 2010

Abóbora


Natureza-morta com abóbora e outros frutos, em fundo negro.
Foto de Petr Kratochvil
Copyright: Public domain image.
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Doce de abóbora-menina
(Beira Litoral)
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Abóbora-menina - q.b.
Acúcar - q.b.
canela - q.b.
Nozes - q.b.
Limpa-se das pevides e da casca uma abóbora-menina de tamanho médio. A polpa da abóbora corta-se aos quadrados e pesa-se. Junta-se-lhe metade do peso em açúcar, um pouco de canela em pó e deixa-se assim ficar de um para o outro. No dia seguinte lrva-se ao lume e deixa-se cozinhar até ficar com a consistência de ovos-moles.
Durante a cozedura vai-se desfazendo a abóbora com a ajuda de uma colher de pau. Depois de pronto o doce junta-se-lhe miolo de nozes partido aos epdacinhos e um pouco mais de canela se for necessário e vaza-se em que se deseja servir. Serve-se frio e acompanhado de natas batidas.
M.A.M. - Cozinha do mundo português. Porto: Tavares Martins, imp. 1962, p. 626-627
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Lisboa : Bertrand, 1955
Aquilino dedica este livro, que tem o subtítulo de Polémica e crítica, a Jaime Cortesão:
«Dê-me licença, querido amigo, que lhe ofereça esta carrada de abóboras. Dou o que tenho. Faça de conta que lhe trago... o quê? os pomos de oiro das Hespérides.
«Abóboras?! Pois então! Como os bons e pobres cultivadores da minha serra, agora que chegou o meu Outono, sinto que é a altura de tirar as abóboras do campo e pô-las de barriga ao léu, o ar estupefacto, a inocência rósea, o esforoidal caprichoso em cima do telhado.
«As autênticas cucurbitáceas, enquanto estão na terra, por via de regra acaçapadas entre o milho, dir-se-ia têm por obrigação dormir. Dormem como as bolas de pedra em toda a parte em que as há, sobretudo nos adros das igrejas e portas dos fidalgos. Dormem e crescem. Crescem sem licença de Deus e todavia não são sôfregas no comer como as couves galegas e os calondros. E são generosas. Uma gota de orvalho convertem-nas em odres de ambrósia. Ambrósia aboboral, já se deixa ver, mas nem por isso a transubstanciação é menos notável. [...]
«Os telhados, quando se vão embora as andorinhas dos beirais, ficariam vazios e confusos sem a presença inefável. Depois delas o dilúvio. Entretanto, a sorrirem ao longe e ao perto, quedam ali, tal as almas dos santos padres no limbo, com seu ar inconsútil e bronco de eternidades à espera de quem? Do facalhão da dona de casa que as corte em talhadas para a sopa de feijão burro adubada a salpicão e orelha de cerdo, dessas gloriosas e peninsulares sopas que têm de urrar para ser genuínas? [...]
«Que debruçadas do alpendre exalam uma outonal melancolia, que dúvida! [...]»
Tenho pena de não poder transcrever todo a dedicatória de Aquilino a Cortesão. Mas quem tiver ficado com apetite, pegue no livrinho e leia-o.
Eu sou fã de Aquilino e destas Abóboras no telhado.

9 comentários:

ana disse...

Parece-me muito interessante. Nunca li este livro.
Obrigada e bom Domingo!

MR disse...

Bom domingo! E bom feriado!

Anónimo disse...

A receita é uma maravilha... com tanto Q.B. só a faz quem sabe...
Q.B.

APS disse...

Ah!Gand'Aquilino!
E, outro dia, a HMJ e eu tivemos o gosto de ver um casebre, lá para as bandas da Lourinhã, aberto a meio devassando prateleiras e prateleiras coalhadas destas abóboras outonais.

hmj disse...

Ora MR, haverá, na altura certa, bolinhos de jerimu, para si, especialmente, admiradora do A. Ribeiro.

Miss Tolstoi disse...

É sempre com grande prazer que se lê este escritor. Só quem nunca o leu é que diz que não gosta. :-)))
Será que há algum livro dele com "LER +" escarrapachado na capa? Sim, que estas escolhas são de truz...

Miss Tolstoi disse...

Vou aproveitar para o reler, neste fim-de-semana prolongado que tem sido dedicado à música e à leitura.

MR disse...

O Anónimo Q.B. não leu a receita, senão via que os q.b. se transformam... :)
Obrigada, HMJ! Vou ver o que são bolinhos jerimu, mas que já me estão a aguçar o apetite...
E se gostarem de doce de abóbora (pouco doce), feito de acordo com esta receita, o tacho está ao lume, e um frasco pode chegar até vós.
O meu fim-de-semana, Miss Tolstoi, tem sido dedicado à cozinha, ao cinema e ao convívio. Pouca leitura... Mas talvez hoje, se não houver melhor programa...

MR disse...

E - mais importante! - a passear. Vai ver onde, Miss Tosltoi.