Prosimetron

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domingo, 4 de agosto de 2013

À mesa com Afrânio Peixoto


«Vai-se à mesa. Cada qual toma o seu lugar, afasta o assento, e de pé, silencioso, queda-se, benze-se, e rende graças a quem nos dá esse «pão nosso de cada dia»... Isto feito, largas ao apetite. Não é a table d'hôte apressada. Nem os pratinhos magros e parcos, das minutas de restaurante, que não restauram coisa alguma... Senão fartos e multiplicados. Quando a gente supõe não poder mais, a iguaria que vem solicita a capacidade do ventre para nova concessão... Dez pratos, vinte sobremesas. Vinhos: uma gama riquíssima, que começa no aperitivo do Madeira, continua nos brancos dos peixes, segue nos tintos dos pratos de resistência, cepas velhas, rascantes, vivos, graves, indo aos espumantes, e acabando no Porto, que coroa a obra prima da refeição... «Quando finda, a gente levanta-se e, então, é que a bênção sobrevém, como se fora encanto espiritual a esse, de comunhão familiar: uns volvem para os outros, apertam-se efusivamente as mãos, 'boa tarde', ao almoço, 'boa noite', ao jantar, que enternecidamente se desejam os que celebraram este santo sacrifício quotidiano, com que Deus nos favorece...» 
Afrânio Peixoto 
In: Viagens na minha terra: Portugal. Lisboa; Porto: Livr. Lello & Irmão, 1938, vol. 1, p. 166

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