Prosimetron

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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Praias e lugares da minha infância -3


 
Gravura de 1850


Sintra é um manancial de memórias das minhas infância e adolescência. Por isso volto a esse lugar.

Fonte da Sabuga
 
Sofrendo os meus pais e minha tia e madrinha Alda, que vivia connosco, de problemas digestivos, instituiu-se o ritual de uma vez por semana se ir com bilhas buscar água à Fonte da Sabuga, que fica na encosta da serra mandada erigir no Séc. XVIII, entre os muros da Quinta do Saldanha, . Já se lhe referiu o cruzado Orborne, no séc. XII, como boa para acalmar a tosse, a Rainha D. Luísa de Gusmão bebia as suas águas e, no "Arquilégio Medicinal", de 1726, diz-se que era indicada para as "diarreias biliosas". Ia-se á noite, a pé, as minhas duas criadas com as bilhas na cabeça sobre rodilhas  e eu e a minha irmã. Como havia pouca iluminação pública, o medo imperava. E uma das criadas garantia que tinha visto um fantasma numa das vezes em que ventava e as árvores abanavam.
 
 
Visita de Hailé Selassié a Portugal
 
Três acontecimentos marcaram as estadias em Sintra: a visita de Estado do Imperador Hailé Selassié, da Etiópia, acompanhado por uma princesa sua neta, que era medonha, em 1954 (contava-se a anedota de que o Almirante Américo Tomaz, ao recebe-lo no Cais das Colunas, se apresentou dizendo  "Américo Tomaz, presidente da República" ao que o Negus lhe respondeu "Ai é? Sei la Si é !); o "Círio" de Nossa Senhora do Cabo Espichel, que se faz na vila de 25 em 25 anos, em 1955, com procissão na Volta do Duche (avenida que liga a Estefânia à Vila Velha) e fogo de artifício, que vi nessa rua - com o episódio da queda de uma cana a poucos metros de mim -e uma vista inesperada a Sintra, no Inverno de 1954, para ver a serra vestida de branco com o nevão que assolou Lisboa e arredores. Uma visão inesquecível. 


        
Círio da Senhora do Cabo, frente ao Palácio e Nevão em Sintra, visto do Palácio da Vila
 
Com os meus 13 ou 14 anos, já aspirante a poeta, "forcei" o conhecimento com a poetisa sintrense Oliva Guerra, que era uma figura muito popular. Tive a lata de lhe dar a ler incipientes poemas meus e ela  a generosidade de não se rir. Até me incentivou e ofereceu-me um livro seu, com dedicatória.
 


 
poetisa Oliva Correia de Almada Meneses Guerra
 
 

"PARQUE DA PENA RAMO SENHORIL
NO REGAÇO GRANÍTICO DA SERRA
EM TEU CONDÃO DE LÍRICA BELEZA
FICASTE NESTE MUNDO DE TRISTEZA
COMO UM SONHO DE AMOR PRIMAVERIL
- VERDE ESTROFE DE UM CANTO PANTEÍSTA
PARAÍSO QUE A ALMA NOS CONQUISTA
E QUE POR DOM DE DEUS DESCEU À TERRA!...

1957 OLIVA GUERRA"
 
Gravado em mármore na "Feiteira da Condessa", Parque da Pena

8 comentários:

Filipe Vieira Nicolau disse...

Estas postagens - simplesmente uma maravilha!

MLV disse...

São sim, senhor. Belas memórias.

ana disse...

Sublinho os anteriores comentários.
Sintra é uma cidade de grande beleza.
Boa tarde a todos. :))

MR disse...

Tb estou a gostar.

JMS, a Oliva Guerra - que eu conheci - também entrava na categoria em que colocou a neta de Hailé Selassié. :-)

João Mattos e Silva disse...

MR eu conheci-a mais velha do que na foto e a neta do imperador erra uma miss Etiópia ao pé dela :))

Miss Tolstoi disse...

Sintra é um dos meus lugares preferidos, a seguir a Lisboa. Não fosse tão húmido e talvez vivesse lá.

Ana Venâncio disse...

Deliciosos estes seus posts.

MR disse...

JMS, eu tb já a conheci mais velha que a foto... :)