Prosimetron

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terça-feira, 14 de abril de 2009

Natureza viva, Nuno Júdice.


Natureza viva

Um pintassilgo desce pelas escadas
da canção, empoleira-se nos seus versos,
estende o bico para que o canto
não se perca pelo chão. Ainda bem que é
para o céu que ele está a olhar:assim,
não vê os teus cabelos que se espalham
por entre ervas e ramos, nem os teus
braços que se apoiam ao declive da
encosta. No entanto, a tua respiração
canta com ele; e só quando o vento
o enxuta do ramo é que o silêncio
se faz para que, de dentro dele, nasçam o
bater de asas do seu voo e o teu riso, ao
veres um pássaro saltar de dentro do amor.

Nuno Júdice - Pedro, Lembrando Inês, Lisboa: D. Quixote, 2009, p.12.

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