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quarta-feira, 10 de junho de 2009

60 anos de uma nação: 1971

Uma onda de consternação atravessa a Alemanha Ocidental: o semanário Stern publica o artigo “Wir haben abgetrieben” (trad. abortámos), em que 374 mulheres confessam ter voluntariamente interrompido a gravidez – entre elas, nomes conhecidos como os das actrizes Romy Schneider e Senta Berger, mas também mulheres anónimas de todas as camadas sociais. Alice Schwarzer, defensora incontornável da causa feminista alemã, lidera esta iniciativa e exige a anulação do § 218 do Código Penal que penaliza o aborto. Segue-se um debate público, profundamente dividido entre as opiniões a favor e contra a despenalização: os slogans dos diferentes quadrantes vão desde A minha barriga só a mim pertence a Aborto é homicídio. A coligação entre os sociais-democratas e o partido neo-liberal viria a reformar o código três anos mais tarde. Tal reforma viria, no entanto, a ser chumbada pelo Tribunal Constitucional (Bundesverfassungsgericht).

O Prémio Nobel da Paz de 1971 é atribuído a Willy Brandt. O comité norueguês distingue o chanceler alemão com o prémio “por pôr em prática a 'Ostpolitik', na República Federal da Alemanha, que estabeleceu uma nova atitude em relação aos países de leste, e, em especial, à República Democrática Alemã" . Já durante o seu cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, Brandt iniciara a reconciliação com os vizinhos de leste. Levara a cabo os tratados com a União Soviética, a RDA e a Checoslováquia, assinados em anos anteriores, o que viria a atenuar a tensão da Guerra Fria. Símbolo mais emblemático deste empenho fora a visita de Brandt ao monumento às vítimas do Ghetto de Varsóvia um ano antes. A política de “normalização” (Entspannungspolitik) sob a iniciativa de Brandt viria a marcar o fio condutor da política externa da Alemanha Ocidental durante toda a década.
“Se no balanço da minha actuação constar que eu ajudei a abrir caminho para um novo senso de realidade na Alemanha, então eu terei cumprido uma das esperanças da minha vida", assim discursa Brandt na cerimónia oficial em Oslo.

Imagens: capa do semanário Stern; Brandt ao receber o Prémio Nobel da Paz

1 comentário:

Anónimo disse...

“Se no balanço da minha actuação constar que eu ajudei a abrir caminho para um novo senso de realidade na Alemanha, então eu terei cumprido uma das esperanças da minha vida"
Uma boa memória!
A.R.