Prosimetron

Prosimetron

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meteoro

Não a viram passar? Era no Outono,
Quando languece a flor, quando na selva
Se cala o rouxinol e ao abandono
Jazem as folhas na crestada relva.

Não a viram passar? As altas neves
Revestiam das serras as cumeadas
E em vez das brisas perpassando leves
Assopravam violentas as rajadas.

No meio da tristeza destas cenas
Ela só, muda e pálida, sorria,
O seio a anuviar-se-lhe de penas,
O rosto a iluminar-se de alegria.

Não a viram? Passou. A natureza
É outra vez de galas revestida:
Mas a minha alma é coberta de tristeza
Como naquele instante de partida.

Júlio Dinis, (Poesias)

Júlio Dinis in João Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa, Das Origens aos Nossos Dias Acompanhada de uma Antologia, Empresa Nacional de Publicidade, 1955, Vol.II p. 3

1 comentário:

Miss Tolstoi disse...

Gosto imenso de Júlio Dinis como romancista.