Prosimetron

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sábado, 31 de outubro de 2009

Eterno feminino


Anne-Josèphe Théroigne de Méricourt,
nascida Anne-Josèphe Terwagne

As modas do Outono! Mas, minha querida amiga, para que havemos nós de nos insurgir contra a moda, - se ela é tão rápida, tão impersistente e tão fugitiva? Tem razão: os casacos azul Nattier, azul Sèvres, loiro tabaco, vermelho ferrugem, largos, campanudos, com rodas enormes, aprecem sinos com dois pezinhos a badalar dentro; os boleros, sugestões de Goya, de uma duvidosa elegância garçonnière, irritam, enervam, contundem; os chapéus altos Thermidor, com a sua fivela e as suas fitas caídas, feministas, cubistas, futuristas, abominavelmente Mistress Pankurst, execravelmente Miss Robertson, furiosamente Théroigne de Méricourt, - dão vontade de bater nos figurinos Paquin, Redfern, Béchoff, Georgette, que, apesar da guerra, invadem as modistas de todo o mundo. Tudo é masculino: o carrick, o bolero, o chapéu, os gestos, os caprichos, as infidelidades, - e o fumo. Execrável. Mas que havemos nós de fazer, minha querida amiga, - se está absolutamente provado que a mulher é o único defeito do homem?
Júlio Dantas
In: Ilustração Portuguesa, Lisboa, 2.º semestre 1915, p. 417

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