Prosimetron

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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Amor hospitalar...


" (...) Enquanto concluem o tratamento da minha minúscula ferida de Pulseira Verde, vou escutando o que se passa do outro lado da cortina. Um médico, depois de limpar a ferida, coserá a cabeça do gigante negro. Agora, por enquanto, estão a falar italiano.
Descobriram que um e outro falam essa língua- e estão divertidos, muito divertidos. O negro elogia a beleza do médico. Você é muito bonito, ouço o negro a dizer o médico. O médico graceja, sempre em italiano.
O negro enorme ainda tem bastante sangue a escorrer da cabeça, mas está a pedir o número de telefone ao médico; isso mesmo: o número de telefone.
Não sei como terminou o jogo de sedução entre um homem enorme que tinha a cabeça praticamente aberta em dois e o jovem médico de boa aparência, pois, antes de qualquer conclusão e consuzido por um certo pudor, saí dali.(...)
Não te leves demasiado a sério, mas leva a sério o mundo. Sim, certo. Mas o mundo por vezes, mesmo quando é sério-e nada é mais sério do que um hospital- consegue ser, ainda assim, divertido. Saio a pensar no enorme negro e no belo médico a falarem em italiano e a trocarem telefones enquanto o sangue cai sem parar de uma cabeça aberta em dois, e penso como o amor é capaz de aparecer nos sítios e instantes mais imprevistos.
Já fora do edifício do hospital pareceu-me ouvir alguém a cantar alegremente, e num tom altíssimo, uma ária de uma ópera italiana. Mas talvez fosse o vento- que o Serviço Nacional de Saúde não é assim tão eficaz. "
- Gonçalo M.Tavares, Serviço Nacional de Saúde, na Visão desta semana.
Mais uma prova de que a realidade é sempre capaz de ultrapassar a ficção.

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