Prosimetron

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

60 anos de uma nação: 1962

Os alemães saúdam o Ano Novo dançando: o Twist, nascido provavelmente na Peppermint Lounge nova-iorquina alguns meses antes, conquistou a Europa e, também, a Alemanha Ocidental. Jovens e menos jovens praticam a dança até à exaustão. Há quem considere os gestos imorais, os médicos alertam para eventuais problemas nas zonas do joelho e da coluna.


Na noite de 16 para 17 de Fevereiro, o norte da Alemanha é assolado por terríveis cheias e inundações, causadas por fortes marés vivas do Mar do Norte. Os diques não resistem. Cerca de 300 pessoas perdem a vida, 60.000 habitantes em Hamburgo, cidade mais afectada, ficam sem abrigo. Helmut Schmidt, senador de Hamburgo, destaca-se pela eficiência e capacidade de resposta face a esta catástrofe. Viria a ser chanceler nos anos 70.


O muro de Berlim é cenário trágico da morte de Peter Fechter, jovem aprendiz de 18 anos que, ao tentar fugir de Berlim oriental, é abatido por soldados da RDA. A fuga, à semelhança de tentativas anteriores de outros dissidentes, é captada em directo pela televisão ocidental. Nem os guardas da RDA nem soldados americanos auxiliam Fechter. O jovem é resguardado, já morto, ao fim de uma hora. A Alemanha Ocidental assiste a este drama que mais uma vez reflecte a desumanidade do regime comunista e a impotência dos Aliados Ocidentais.

Em Setembro de 1962, os escritórios do semanário Der Spiegel em Hamburgo e Bona são investigados pela polícia. O director e directores adjuntos, em prisão preventiva, são acusados de terem cometido traição à pátria, pois uma edição anterior tinha revelado falhas do governo e do exército alemães na preparação de um eventual ataque militar. Segundo o Ministério Público, terá Der Spiegel recorrido a informações secretas.
A braços com a crise na Baía dos Porcos, a chamada Spiegel-Affäre movimenta milhares de manifestantes nas ruas das principais cidades alemãs em prol da liberdade de expressão. Poucos dias depois, as investigações sugerem, no entanto, que o Ministro da Defesa, Franz-Josef Strauss, e adversário assumido deste semanário, terá incentivado estas buscas sem fundamento. Ao fim de 103 dias, é libertado o último acusado. Strauss demite-se do cargo. Viria a ser Primeiro-Ministro da Baviera nos anos 70.

A moda feminina no início da década de 60 herda as tendências principais dos anos 50. Os estilistas de Milão e Paris definem a senhora como dama cosmopolita, o que se reflecte no guarda-roupa: a elegância traduz-se em linhas simples e femininas.

Imagens: The Twist; Hamburgo, Fevereiro de 1962; o jovem Peter Fechter; Franz-Josef Strauss; tendências no início dos anos 60 (Chanel)

6 comentários:

Anónimo disse...

Fantástica a ligação política com os comportamentos e tendências nos hábitos adquiridos.
A.R.

LUIS BARATA disse...

E quando será publicado aqui no blogue o " Relatório Dresden " ? É uma cidade que sempre quis conhecer e gostava de conhecer as tuas impressões... Vá lá...

LUIS BARATA disse...

E lembram-se da versão oficial da RDA sobre o muro? Servia para evitar a deslocação massiva dos que viviam do lado ocidental para Berlim Oriental... Terrível cinismo e hipocrisia que custou muitas vidas.
Não quero entrar em polémicas, mas quem ficou comunista depois de 1956 em Budapeste, ou ainda mais tarde depois da Primavera de Praga de 1968 sofria realmente de grande miopia política...

Miss Tolstoi disse...

Miopia? Cegueira!

Anónimo disse...

Lembro-me muito bem da Primavera de Praga: os tanques a entrarem pela cidade e Palach a imolar-se pelo fogo... Coisa horrível!
M.

Anónimo disse...

Jan Palach imolou-se uns meses mais tarde, já não sei quando.
Quando fui a Praga, vi uma placa que assinala o local.
M.