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sábado, 8 de agosto de 2009

Louise Brooks


Louise Brooks nasce em Cherryvale (Kansas) a 14 de Novembro de 1906. Incentivada pela mãe, frequenta aulas de dança e, com apenas quinze anos, integra os “Denishawn Dancers”, um grupo de bailarinas de revista nova-iorquino sob a égide de Ruth St. Denis e Ted Shawn.

Em 1925, actua como chorus girl numa das muitas produções das Scandals de George White na Broadway que marcaram o início de carreira de várias estrelas, tais como de Ethel Merman ou Eleanor Powell. Ainda nesse ano, dança o Charleston no lendário Café de Paris de Londres. Regressada à Broadway, é convidada a representar um papel em “Louie the 14th” de Flo Ziegfelds. As produções Ziegfeld Follies, inspiradas no Follies Bergères de Paris e em permanente coexistência rival com as Scandals, acolhem Brooks durante um ano. Charlie Chaplin terá visto Louise numa das representações. Consta que ambos viveram um curto affair estival…

Louise entra no universo da Sétima Arte em Maio desse ano: estreia-se em The Street of Forgotten Men de Herbert Brenon. Após a conclusão da segunda película The American Venus de Frank Tuttle em 1926, é-lhe proposto um contrato de cinco anos pela Paramount. Em apenas poucos meses, a jovem actriz participa em seis filmes sob a direcção dos realizadores mais aclamados no campo do género cómico, entre eles, Malcolm St. Clair, Frank Tuttle e Edward Sutherland, seu primeiro marido.

O seu desempenho em A Girl in Every Port de Howard Hawks, em que seduz dois homens ao mesmo tempo, torna-se decisivo na sua carreira: G. W. Pabst descobre Louise e encontra assim a protagonista ideal para o papel de Lulu, o personagem principal na adaptação cinematográfica da tragédia de Frank Wedekind “A caixa de Pandora” que o realizador alemão leva a cabo em Berlim. O filme e sua leading woman vivem um sucesso internacional fascinante, e o duo Pabst / Brooks dá à luz o Diary of a lost girl.

O percurso de Brooks pela Europa termina em Paris com a película Prix de beauté de Augusto Genina. De volta a Hollywood, a actriz confronta-se com o cinema sonoro. Recusa-se a gravar uma versão sonora de The Canary Murder Case, o seu último filme mudo realizado nos Estados Unidos. A natureza intransigente de Brooks colide com os interesses intransigentes da Paramount que, num acto de retaliação, informa a imprensa da voz inapta de Brooks para a revolução sonora. Com apenas 25 anos, Louise Brooks é afastada dos grandes estúdios, a promissora carreira vive um clímax cruelmente efémero e um fim prematuro.

Os anos seguintes espelham uma vida sem norte: desde bailarina em night-clubs e participações secundárias em quatro filmes a vendedora nuns armazéns de Nova Iorque, o fracasso profissional junta-se a uma relação com o milionário Deering Daves, condenada ao curto prazo de seis meses. Overland Stage Raiders com o ainda desconhecido John Wayne seria a última aparição da senhora do Kansas.


Já nas décadas de 50 e 60, revemos Brooks em peças televisivas a testemunhar os tempos longínquos de Hollywood: um verdadeiro achado é a produção da BBC Movie go round de 1965; Richard Leacock e David Gill registam na sua série Hollywood uma Brooks em roupão que associa a impiedade da maquinaria dos grandes estúdios, por si sofrida, ao exemplo da Clara Bows.

A tentativa mais bem sucedida contra o esquecimento público ocorre no início dos anos 80 quando é publicado um conjunto de artigos e ensaios da autoria de Louise, intitulados Lulu in Hollywood, sobre Humphrey Bogart, Lillian Gish, Greta Garbo ou Charlie Chaplin. A qualidade da escrita é reconhecida: Lulu in Hollywood torna-se num bestseller para surpresa do mundo literário.

Recordar Louise Brooks significa o tributo devido a uma época única, repleta de rostos que não necessitavam de diálogos (We didn't need dialogue! We had faces!” , Gloria Swanson). Recordar Louise Brooks significa o encontro com uma mulher que alicerçou o seu mito em apenas dois filmes, no seu look inconfundível, bem como na sua rebeldia, feminilidade e vivência escandalosa. Nem o curriculum profissional incompleto nem o percurso pessoal inconstante conseguiram destruir esta aura.

Louise Brooks faleceu a 8 de Agosto de 1985 em Rochester (Nova Iorque) devido a uma paragem cardíaca. O isolamento do mundo foi a sua derradeira companhia.

1 comentário:

LUIS BARATA disse...

E estou estupefacto mais uma vez com a sincronicidade que reina por toda a parte. Pela primeira vez, penso eu, fala-se dela no blogue, e eu ainda anteontem falava dela a um amigo brasileiro que me dizia ser hoje impossível a tradução que foi usada ao tempo no Brasil para a "Caixa de Pandora" : " A Boceta de Pandora "...