Prosimetron

Prosimetron

sábado, 22 de agosto de 2009

Razão


A caminho do Inferno, Paris, séc. XV


Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

5 comentários:

Anónimo disse...

Há montes de anos que não lia nenhum destes «Poemas possíveis». Acho, aliás, que foi o único livro de poemas que ele publicou.
Gostei!
M.

ana disse...

O poema é lindo e fez-me lembrar esta ilustração de Goya O sonho da razão

ana disse...

A ilustração intitula-se:
"O Sonho da Razão produz monstros"

Anónimo disse...

Então não podemos deixar a Razão adormecer.

Jad disse...

Obrigado Ana