Prosimetron

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domingo, 23 de maio de 2010

Cantar de amor

Alegre a luz a nuvem
E o grão germinado,
Que a bem-amada vem.
Depois do tempo jurado.

Faça-se ao mar a gaivota
E leve a boa nova em sua anilha,
Que enfim, na última derrota,
A nau sem leme achou a ilha.

A terra cheira a sol e a erva cortada:
Um pássaro a escolheu pelo cabelo
Como se fosse terra semeada.

E agora – flores. Agora,
Nada mais que estendida
E serena no chão da sua hora,
Conseguida e tocada.
Que assim
A vista o lá veste a harpa esquecida.
E, em mim,
A corda tensa sossegada.

Vitorino Nemésio
In: Poesia. Lisboa: Imp.-Nac.-Casa da Moeda, 1989, p. 44

1 comentário:

APS disse...

Fez-me lembrar o "Cântico ao sol" e os "Fioretti" de S. Francisco de Assis. E como quase tudo o que vem de Nemésio é um lindíssimo poema. Obrigado, MR.