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sexta-feira, 5 de junho de 2009

60 anos de uma nação: 1968

A Associação de Estudantes Socialista Alemã da RFA convoca um congresso de dois dias em Berlim para debater a situação do Vietname. Intelectuais de todo o mundo, entre eles, Jean-Paul Sartre, Pier Paolo Pasolini ou Hans-Magnus Enzensberger saúdam a iniciativa. Os estudantes criticam o imperialismo dos Estados Unidos bem como o apoio dos Aliados na Europa. A segunda jornada termina com uma manifestação pelas ruas de Berlim (ocidental): 10.000 estudantes gritam “Ho-Ho-Ho-Tschi-Minh”, mostram orgulhosamente os retratos de Mao e Che Guevara em centenas de cartazes e exigem a revolução socialista em todo o mundo. A contra-manifestação não se faz esperar. Apenas três dias depois, mais de 80.000 manifestantes organizam um comício sob o mote “Berlim não é Saigão”.

A Quinta-Feira Santa de 1968 marca o início das revoltas estudantis: o popular líder estudantil Rudi Dutschke é vítima de um atentado no Kurfürstendamm de Berlim. Sobrevive às três balas com sequelas graves. Uma onda de protesto generalizada atravessa a República Federal durante os dias de Páscoa, as manifestações resultam em confrontos violentos em várias cidades. Estudantes e civis insurgem-se em particular contra a imprensa conservadora que, na sua abordagem, tenta gerar um sentimento negativo da população alemã em relação aos objectivos do movimento estudantil. O jornal de maior tiragem, Bild, declara Dutschke como “inimigo nº 1 “ da Alemanha. Josef Bachmann, autor do atentado contra Dutschke, pertence a uma organização da extrema direita. Viria a suicidar-se em prisão dois anos depois. Dutschke viria a falecer em 1979, ainda em consequência dos ferimentos sofridos.

A situação mantém-se tensa durante o mês de Maio. A coligação entre Democratas Cristãos e Sociais-Democratas sob a chancelaria de Kurt Georg Kiesinger decreta, em resposta à forte oposição estudantil, a chamada Notstandsgesetzgebung - medidas legislativas que, em caso de instabilidade e crise políticas, conferem latos poderes aos órgãos de soberania e restringem determinados direitos do homem fundamentais. A população alemã divide-se, intelectuais como Heinrich Böll recorda decretos semelhantes durante a República de Weimar que possibilitou a ascensão de Hitler ao poder. A oposição estudantil extra-parlamentar vê-se confirmada nos seus receios de que a Alemanha caminha para uma ditadura.

O congresso do partido dos democratas cristãos em Berlim ocidental é palco de um incidente inédito: o chanceler Kiesinger é alvo de uma bofetada em público, dada pela estudante Beate Klarsfeld. A jovem de 29 anos e uma parte significativa da nova geração repudiam altos políticos e funcionários com um passado nazi. O escritor Heinrich Böll oferece um ramo de rosas a Klarsfeld em sinal de solidariedade. Seu colega, Günter Grass, critica o acto afirmando que “tanto não seria necessário”. Kiesinger, membro da NSDAP, exerceu um alto cargo no Ministério dos Negócios Estrangeiros durante os anos quarenta. Explica o seu envolvimento durante o regime de Hitler e sobrevive a esta crise por alguns meses: viria a ser derrotado nas eleições legislativas do ano seguinte.


- CONTINUAÇÃO NA PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA -


Imagens: Maio de 68; Rudi Dutschke; Daniel-Cohn Bendit (um dos líderes de 68, hoje em dia deputado do Parlamento Europeu); Klarsfeld vs Kiesinger

2 comentários:

Anónimo disse...

Ano excepcional: lutas e reivindicações estudantis. A inteligência a funcionar, o mundo a querer mudar...
Fantástico este post.

Obrigada Filipe!
A.R.

Anónimo disse...

Digno de entrada numa enciclopedia,melhor,na wikipedia. C.M.C