Prosimetron

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domingo, 25 de outubro de 2009

A angústia de Maria Antónia

Apesar dos pareceres concordantes da Maya, do Paulo Cardoso e do Prof. Malatu Bembo, Maria Antónia de Sousa de Menezes e Teixeira Lima da Cunha Perdigão não conseguia dominar a sua angústia. Continuava convencida que o seu marido de quase 40 anos, o respeitado cirurgião Dr.Cunha Perdigão, a enganava com outra ou outras mulheres.
Até mesmo depois do relatório entregue pelo Detective Santos, contratado através do Correio da Manhã, jornal que comprou pela primeira vez na sua vida embora depois o tivesse lido de fio a pavio, Maria Antónia continuava firme na sua convicção de mulher traída.
Era o seu sexto sentido de mulher como costumava dizer, apoiado no relativo desinteresse sexual do marido que durava há já alguns meses, bem como no facto de este não perder nos últimos tempos uma palestra, colóquio ou congresso, no país ou no estrangeiro,depois de uma vida inteira a furtar-se a tais eventos. Até Alice, a filha do casal que havia seguido a carreira do pai, achava que " O pai anda esquisito " .
Dominando os seus sentimentos, Maria Antónia não partilhara as suas inquietações com nenhuma das suas amigas, nem com as mais antigas, as do colégio, nem com as do bridge.
Receava ser apontada como uma "coitadinha" como tinha visto acontecer em casos semelhantes. Até porque se lembrava sempre das palavras da sua avó minhota, a Sra.D. Maria Luísa Fonseca Seabra e Silva de Sousa de Menezes que ao ouvir ser expresso qualquer sentimento de piedade proclamava perante quem quer que estivesse perto de si : " No Minho coitadinho é corno! Na minha família não há coitadinhos! ". Um código de conduta espartano partilhado pela outra grande influência na vida de Maria Antónia, o seu pai, o Prof. Teixeira Lima, que formara gerações de cirurgiões portugueses e entre estes aquele que viria a ser o marido da filha, o Dr.José Francisco da Cunha Perdigão.
Maria Antónia apenas abrira uma excepção com a sua cunhada preferida, Ana Laura, tendo esta procurado tranquilizá-la : " O meu irmão não tem esse carácter, e se ainda fosse mais novo mas aos 60 anos ? ". Maria Antónia rebatera com o Viagra, aduzindo ainda um exemplo que tinha lido recentemente numa revista do "social" : " Pois se até o Julio Iglésias acabou de assumir que toma Viagra, porque não há-de fazê-lo também o José Francisco que até é mais novo? ".
Apesar da oposição da cunhada, Maria Antónia decidiu confrontar o marido domingo à noite quando este regressasse de Londres onde tinha ido a um seminário do Royal College of Surgeons.
E assim aconteceu. Depois de um jantar a dois, ao contrário do que era habitual aos domingos pois que Maria Antónia tinha pedido a Alice que inventasse uma desculpa para não estar presente, mais silencioso do que o habitual o casal retirou-se para a biblioteca que também servia de sala de estar no dia a dia. Antes que o marido se refastelasse no sofá, Maria Antónia passou ao ataque:
- José Francisco, exijo que me diga com quem anda metido e quais são as suas intenções!
- Ò Maria Antónia, por amor de Deus, a menina está doida? Eu não ando metido com ninguém!
- Não se faça de inocente, você está diferente, não pára em casa e sempre que pode vai para o estrangeiro, tenho a certeza que há outra mulher na sua vida!
O Dr.Perdigão sorriu, aproximou-se da antiga mesa de jogo que agora servia de bar e serviu-se de whisky. Depois, respirou fundo e encarou Maria Antónia:
- Minha querida, não lhe quis dizer antes para não a preocupar mas fui convidado para ser o próximo bastonário, inclusive com o apoio do actual pelo que certamente serei eleito.
Maria Antónia deixou-se cair no sofá. Tudo fazia agora sentido: as mudanças de comportamento, as viagens, os congressos e os colóquios. O marido bastonário dos médicos! Pensando no que tal implicaria- convites para tudo e mais alguma coisa, bem como o reconhecimento social e mediático associado ao cargo, não conseguiu reprimir as lágrimas.
Levantou-se e enlaçou o marido que lhe enxugou as lágrimas que corriam agora pelo rosto abaixo.
- Então eu serei a Primeira Dama dos médicos!
- Mais ou menos, minha querida, mais ou menos.



Como é da praxe, importa dizer que qualquer semelhança entre estas personagens e quaisquer pessoas de carne e osso, vivas ou mortas, é mera coincidência.

6 comentários:

Anónimo disse...

Continua de parabéns! O Luís!
A Maria Antónia, veremos...
M.

Anónimo disse...

Parabéns!
Ana

Jad disse...

O nosso Luís não fosse a pontuação até parece o nosso Saramago (escrevi, de propósito, sem pontuação)... E estou a adorar

Anónimo disse...

E o Jad está a adorar o quê?

Anónimo disse...

Respondendo:
Caim, a minha companhia desta noite.

Miss Tolstoi disse...

Na verdade está de parabéns.
Também recebe papelinhos do Bembo à entrada (ou saída) do Metro?
Ontem, na minha caixa de correio, estava um cartão do astrólogo mestre (um dia destes... doutor por Bolonha) TURE: "Grande espiritualista, ajuda a resolver qualquer que seja o seu caso, mesmo grave ou de difícil solução, tal como: saúde, amor, negócios, união familiar, desviar e prender, afastar e aproximar pessoas amadas, exames, doenças, vícios de alcoolismo e droga, impotência sexual, maus olhados, invejas, etc.; é um dos melhores profissionais do País.»