Prosimetron

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terça-feira, 31 de março de 2009

Sobre A Corte do Norte

Gostei muito do filme de João Botelho, que adapta o romance homónimo de Agustina. E gostei mesmo muito de Ana Moreira, a actriz principal que deslumbra ao interpretar cinco mulheres de sucessivas gerações, sendo uma delas um verdadeiro mito europeu da segunda metade do séc.XIX. E mesmo na pele desta augusta personagem, trabalho difícil, Ana Moreira convence.
Mas dou a palavra a um crítico que aprecio bastante e com cuja análise concordo em absoluto:

" (...) [ João Botelho ] assina o seu melhor filme em muito, muito tempo com esta saga barroca e desmesurada sobre as grandezas e misérias das mulheres de uma abastada família madeirense ( todas interpretadas por uma convenientemente petulante Ana Moreira ) , centrada na figura de uma misteriosa bisavó de origens escandalosas e destino trágico. É, de caminho, o mais visualmente belo filme português que vemos em muitos, muitos anos, com uma fotografia sumptuosa de João Ribeiro. "

- Jorge Mourinha, in PÚBLICO, 27/03/2009.

7 comentários:

João Mattos e Silva disse...

Apesar de Jorge Mourinha poder ser um execelente crítico de cinema ( nunca tinha ouvido falar dele, mas é ignorância minha)vi o filme, o mesmo filme e tenho opinião diversa. Também não sei se é o melhor filme de João Botelho porque vejo pouco cinema português que não me entusiasma o bastante para me fazer sair de casa. As conclusões a que chegeui foram:
-os realizadores portugueses não sabem adaptar livros porque não contam uma história pela imagem e pela voz das personagens; têm de colocar uma voz off a narrar, com as palavars do autor.
- a imagem é boa, mas tão lúgubre, que se eu não conhecesse a Madeira só lá iria em véperas dos suicídio.
-Ana Moreira faz bem a maior parte dos personagens femininos, mas como Sissi é simplesmente ridícula e anti- histórica.
-a música é excelente, porque música de compositores clássicos.
- o tique de Manoel de Oliveira está patente na paragem de imagens a despropósito.
Sinceramente não gostei. Ainda não é João Botelho que consegue adaptar Agustina que, reconheço, é difícil.

LUIS BARATA disse...

1-Sobre Mourinha: Não é tão conhecido como um João Lopes ou um Jorge Leitão Ramos, até porque mais novo, mas é crítico de cinema residente do Público há já vários anos.
2- Sobre a voz off: No caso de adaptações de obras literárias é difícil não recorrer a ela em certos casos. Quanto à voz escolhida para este filme, aí tenho algumas reticências.
3- Quanto à fotografia: É magnífica e perfeitamente adequada à atmosfera do filme. Não se trata de um video de promoção do turismo,mas sim de uma atmosfera dramática, de enclausuramento, e até de eventual suicídio efectivamente ( da Baronesa de Madalena do Mar, cujo corpo não é encontrado).
4- Relativamente a Sissi, não me parece que Ana Moreira esteja assim tão mal. A Sissi de Agustina está a meio caminho da Sissi delicodoce dos filmes dos anos 50, e do anjo melancólico do filme de Visconti sobre Luís II da Baviera.

João Mattos e Silva disse...

Continuo a discordar, Luís Barata!E começo a pensar que, mesmo lado a lado no cinema, vimos filmes diferentes.
A imagem é boa, afirmei eu. Repito-o. E se, no desenrolar da trama, haveria lugar aos nevoeiros preconizadores da tragédia, noutras captações da câmara não faz sentido.
Quanto a Sissi, obrigou-me a reler - 1º Capítulo, pags 7 a 15 - a Agustina. E não tem nada a ver a descrição que a escritora faz da Imperatriz com a de Botelho.Nem delicodoce como a série de Romy Schneider, nem poética como a de Visconti, nem pateticamente ridicula como a de Botelho.
Eu não gostei. E sempre lhe digo que até prefiro o Manoel de Oliveira a adaptar Agustina. Ao menos tem um toque de génio. Agora são filmes para pequenos públicos, ditos intelectuais, porque o grande público não está para se ir chatear.O cinema português continua não ir lá.

Miss Tolstoi disse...

Já estou com dúvidas... Manuel de OliveiraII?
Cinema não é só boa fotografia...
Fico à espera de "Um amor português" do Mário Barroso que está prestes a estrear.

Anónimo disse...

Um amor português estreia a 23 de Abril. Irei vê-lo. Gostei bastante de O milagre segundo Salomé de Mário Barroso, com Ana Moreira no papel de Salomé. E já agora, Mário Barroso foi durante anos o responável pela bela fotografia dos filmes de Manuel de Oliveira.
M.

Anónimo disse...

Gosto do Manuel de Oliveira e das adaptações que fez da Agustina. Vale Abraão é o meu preferido.

Anónimo disse...

O anterior comentário foi meu.
A.R.