Prosimetron

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Os intelectuais e a internet

" (...) Mas hoje há uma verdadeira cultura popular, que já não é urbana, é televisiva, e é inteiramente impermeável aos intelectuais.
O discurso optimista e democrático que insiste em achar que estamos sempre no melhor dos mundos possíveis argumenta com os nichos: que haveria nichos para todos os segmentos, incluindo todos os tipos de intelectuais: canais de televisão que produzem excelentes séries, cada vez mais magníficas produções em música, teatro, cinema, etc.
Tudo isso é verdade. Mas o ponto é que os intelectuais perderam o poder: não são eles que medeiam a cultura nos espaços colectivos, em especial na televisão. Agora, ocupam um nicho: são seus alguns lugares da cidade, certas ruas, certas salas de espectáculo. Para lá chegarem, têm que atravessar ruas e praças que detestam. São seus certos programas de televisão, a certas horas. Para os verem têm que fazer zapping. São suas certas estantes de certas livrarias. Para verem o que lá está, têm que passar pelas outras estantes com intenso espanto perante as porcarias que o «povo» lê. Ao viajarem, restam-lhes cada vez menos paisagens intocadas por horrendas casas, estúpidos anúncios, hordas de turistas que todos os dias os fazem pensar que o mundo está cada vez mais feio.
Como não têm dinheiro para fugir para longe ou construírem um mundo à parte, remetem-se aos seus nichos como se os tivessem escolhido. Mas não se trata de escolha. Trata-se de exílio.
Todavia, há um território onde os intelectuais podem entreter a ilusão da sua importância: a Internet. A ilusão é aqui possível porque na Internet não há espaço público, não há ruas, não há praças, não há sobretudo televisão, ou seja, na Internet os intelectuais não são obrigados a conviver com o «povo»- podem, como toda a gente, saltar de sítio em sítio nesse território atomizado e sonhar que estão na academia, numa enciclopédia, numa galeria de arte. Refugiados em casa, vêem suspensa, no brilho tremeluzente do ecrã do computador, a sua condição de exilados. "

- Paulo Varela Gomes, Exílio, no PÚBLICO de ontem.


Como não concordar com Paulo Varela Gomes? Todos já sentimos este "exílio", ou não?

4 comentários:

Anónimo disse...

Brilhante! Mas a Internet é o espaço público "par excellence". A única maneira de os intelectuais evitarem o povinho sujo é criarem as suas intranets impermeáveis.

Miss Tolstoi disse...

É um snob.

Anónimo disse...

Gostei do texto de Paulo Varela Gomes. Concordo com ele. Não sei se é snob, como diz Miss Tolstoi, mas o que ele afirma está correcto, é uma análise do mundo actual.
A.R.

Anónimo disse...

Ai o elitismo !!! Quem é que este senhor pensa que é?