Prosimetron

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

60 anos de uma nação: 1989


1989 – um ano de superlativos! Dezenas de milhares de alemães cumprimentam Michael Gorbatschow e sua esposa, Raíssa, em Bona. Com “Gorbi, Gorbi” testemunham o seu entusiasmo e fascínio pela política de reforma e de paz, iniciada pelo Secretário-Geral da KPdSU que, por sua vez, revê nos acontecimentos em curso “uma reconciliação entre os povos”. Uma declaração oficial, assinada por responsáveis políticos alemães e Gorbatschow, confere a cada Estado o direito de escolher livremente o seu sistema político e social. Quatro meses depois, viria Gorbatschow a visitar a RDA: a sua presença e os seus discursos marcariam o princípio do fim deste Estado.

O movimento pan-europeu sob a égide de Otto von Habsburg e do Ministro de Estado húngaro Imre Poszgay organiza uma manifestação em prol da paz, intitulada “pique-nique pan-europeu”: milhares de europeus encontram-se na pequena localidade húngara de Sopron e celebram a abertura simbólica da fronteira austro-húngara durante três horas. 661 pessoas, maioritariamente alemães orientais,“aproveitam” esta abertura para fugir para a Áustria a pé. Deixam carros e bagagens em território húngaro.

Para outros milhares de alemães orientais concretiza-se o sonho da liberdade a 11 de Setembro: o governo húngaro anuncia a abertura completa das suas fronteiras para com a Áustria. Até 9 de Novembro, mais de 225.000 pessoas abandonam a RDA rumo ao Ocidente - via Hungria ou via as Embaixadas da RFA em Praga e Varsóvia.


A 4 de Setembro é convocada a primeira das chamadas “manifestações de segunda-feira” em várias cidades da Alemanha Oriental. Milhares de alemães preenchem os centros urbanos às segundas-feiras ao longo de sete semanas. Ponto alto é a manifestação de Leipzig a 9 de Outubro que conta com a presença de 70.000 manifestantes. Pacificamente, exigem mais liberdade e democracia: o slogan emblemático é simples: Wir sind das Volk (trad. o povo, somos nós). A 2 de Outubro, registara-se ainda uma reacção agressiva por parte do poder central, o que culminara em confrontos entre manifestantes e agentes da polícia. A 9 de Outubro, no entanto, torna-se nítido que o movimento é demasiado forte para ser suprimido à força. Poucas semanas depois, a 4 de Novembro, reivindicam 500.000 alemães orientais liberdade de expressão e de imprensa no “Alexanderplatz” de Berlim Oriental.
As comemorações do 40º aniversário da RDA, supostamente no centro das atenções dos cidadãos, são abafadas pelos acontecimentos imparáveis. Erich Honecker, Chefe de Estado, demite-se por “motivos de saúde” a 16 de Outubro. O poder central em Berlim Oriental reconhece a irreversibilidade dos factos recentes e disponibiliza-se a dialogar com os cidadãos manifestantes.


Quinta-feira, 9 de Novembro: numa conferência de imprensa, é anunciada uma nova regulamentação que permite aos alemães orientais viagens particulares ao exterior, incluindo países ocidentais como a RFA, sem requisitos burocráticos prévios. Günter Schabowski, porta-voz do governo da RDA, profere tais palavras inéditas pouco antes das 19h. Informa ainda os jornalistas que “viagens permanentes poderiam ser efectuadas a partir de qualquer posto fronteiriço da RDA para a RFA ou para Berlim Ocidental”. Questionado pelo jornalista italiano Riccardo Ehrman quando entraria em vigor a nova regulamentação, Schabowksi responde, um pouco inseguro: “Imediatamente”. Ehrman comunica precipitadamente à sua agência que “o muro caiu”. Diversas agências publicam o mesmo, a notícia corre as ruas da RDA e de Berlim Oriental em particular: milhares de berlinenses orientais accorrem rumo aos postos fronteiriços. A pressão pública vence: às 21.30h, é aberto o posto Bornholmer Brücker. Pela meia-noite, vêem-se os primeiros alemães “ex-orientais” a passar pela Porta de Brandenburgo.

O muro caiu. Ao fim de 28 anos.
Um ano depois, a Alemanha viria a reunificar-se.




- ENDE - FIM -

6 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns por todos os posts que colocou com os "60 anos de uma nação".

O de hoje é mesmo especial!
A.R.

LUIS BARATA disse...

Foram dias inesquecíveis.

Anónimo disse...

Na verdade, tudo se precipitou.
M.

JP disse...

Ende??? Publicidade enganosa, disseste 60 anos e ainda ficam a faltar uns tantos!
Nem que seja depois de um break, mas ganha tempo para os 20 que faltam!
Foi muito agradável recordar o pouco que se sabia e aprender o demais.
Sim, este 9 de Novembro é daqueles momentos que marcam.
Abr.

Jad disse...

Vamos Filipe...
Obrigado pelos factos que recordaste ou ensinaste a todos.
Um Grande Amigo tinha no seu gabinete de trabalho, na Faculdade, um cartaz que dizia "Fronteira = Repressão". Foi uma das boas lições para a minha vida.

Anónimo disse...

Aprendi muito, obrigada. CMC