Prosimetron

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sábado, 19 de julho de 2008

Otello na Sydney Opera House


A ópera de Verdi está desde ontem em palco na Sydney Opera House. De particular destaque é a encenação de Harry Kupfer, que ganhou fama na Ópera de Viena. A acção é encenada na escadaria de um palácio sumptuoso semi-destruído (presume-se que pela guerra), com um atlas em bronze ao centro sustentando uma esfera armilar. Decorre algures no início do século XX, com os militares de uniformes reminiscentes das Grandes Guerras. Os movimentos do coro e dos figurantes estão sempre a reforçar a ideia de tempestade, em especial no início e no fim da produção, o que resulta particularmente bem como reflexos do contexto e das tormentas interiores dos personagens. A utilização da estátua omnipresente, primeiro como apoio de Desdemona, depois como amparo / bloqueio de Otello, também está bem conseguida. Cheryl Barker é uma Desdemona convincentemente alegre, surpresa, magoada e resignada / desesperada; Dennis O'Neil é um Otello a quem falta alguma estatura (figurativa e literalmente); e Jonathan Summers é um Iago asqueroso (ou seja, bem para o papel concebido por Shakespeare e revisitado por Verdi). No entanto, falta alguma chama.
Em cena em Sydney até 16 de Agosto; depois, a produção passará para Melbourne.

2 comentários:

Jad disse...

Lá estarei (em espirito, apenas, desta vez). Tenho as melhores recordações da Austrália. No caso da representação de Otello tenho, por norma, medo das encenações que transportam para os tempos modernos os temas antigos! Vi (e sem agrado nenhum) já algumas representações com "transformações" na Tosca e na Aida (para não falar nas de Wagner..., mas essas, por vezes, não tem tempo) e não considerei que tenham resultado. Obrigado por nos dar noticias do outro lado do Mundo.

Filipe Vieira Nicolau disse...

O Jad tem toda a razão ao referir-se às encenações modernas de temas antigos. Há, no entanto, excepções: o Anel de Wagner em Lisboa em 2006 primou pela qualidade das interpretações e pela inteligência da encenação de Vick.
Quanto a Otello: ainda que transposto para a modernidade, é sempre bom ouvir Otello, já que é pouco representado (em comparação com outras obras de Verdi). Obrigado pela informação, lá estaremos todos em espírito.