Prosimetron

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Os meus poemas -3

SONETO

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís Vaz de Camões
(1524? -1580)

2 comentários:

Anónimo disse...

Porque foi bom reler Camões, envio-lhe este:

Perdigão perdeu a pena

Cantiga alheia

Perdigão perdeu a pena,
não há mal que lhe não venha

Voltas

Perdigão, que o pensamento
subiu em alto lugar,
perde a pena do voar,
ganha a pena do tormento,
Nãotem no ar nem no vento
asas com que se sustenha:
não há mal que lhe não venha.

Quis voar a ua alta torre
mas achou-se desasado;
e, vendo-se depenado,
de puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
lança no fogo mais lenha:
não há mal que lhe não venha.

Luís Vaz de Camões in, Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer, Lisboa: Terramar, p. 19 e 20. (selecção de José Fanha e Jorge Letria)
A.R.

LUIS BARATA disse...

É sempre um imenso prazer voltar a Luís Vaz.