Prosimetron

Prosimetron

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"O Leitor" de Bernhard Schlink!

"A questão era: bastará que o artigo (segundo o qual os guardas e os esbirros dos campos de concentração são condenados) já estivesse inscrito no Código Penal no momento dos seus actos? Ou interessa também o modo como este era interpretado e usado naquele tempo, e, nesse caso, esse artigo não lhes era aplicado? O que é a justiça? É o que está escrito nos códigos, ou aquilo que é verdadeiramente aplicado e seguido na sociedade? Ou a justiça é aquilo que, independentemente de estar ou não estar escrito nos livros, deveria ser aplicado e seguido se todos fizéssemos o que está certo?"

A justiça é, na minha opinião, o que torna a nossa sociedade civilizada, é, ou deveria ser a súmula da moral e ética de um país, é o resultado das acções humanas intelectualizadas e objectivadas para regular o comportamento humano e preservar a democracia. Muito mais poder-se-ia dizer da justiça mas vou ficar por aqui. No entanto este livro: "O Leitor" leva-me a enunciar as seguintes questões:

O que é a justiça?
Como se pode julgar o passado?
Quem é que deve ser julgado?

Para lá da justiça, este livro leva-nos ao relacionamento humano que é um labirinto inexplicável. Procurava respostas mas não as encontro... Michael Berg não foi feliz, viveu num mundo criado pelas memórias e pelos livros.

9 comentários:

Anónimo disse...

Parece-me que tudo teria sido diferente se, quando se conheceram, Michael Berg tivesse sabido que Hannah tinha sido guarda de um campo de concentração. E mesmo que era analfabeta.
Não li o livro, mas gostei imenso do filme.
M.

ana disse...

O livro está absorver-me. Estou quase a terminá-lo mas tive o impulso de colocar aqui as questões que ele levanta e que são uma constante na minha vivência.
Obrigada, Filipe Vieira Nicolau, é o livro que mais me tocou nos últimos tempos.

ana disse...

Ainda não percebi, neste livro, se há uma reabilitação sobre o olhar para tudo o que foi feito. Procurar as culpas e fazer justiça(?). Passaram-se 65 anos do holocausto (1944-2009)e por isso agora, podem ver-se as questões de uma forma mais objectiva do que após a guerra. O genocídio foi horrível, as circunstâncias em que viveram, judeus, ciganos, homoxesuais... foram vergonhosas e animalescas, para lá do bem e do mal, mas a questão fundamental continua:
Quem é que se vai julgar e como julgar estas pessoas? Terá o direito e a justiça sido justa?
Estamos a reabilitar o inexplicável? Esta possibilidade tem que se colocar.
Ando à procura de respostas...

MR disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

O genocídio não foi apenas étnico. Também imensos opositores políticos de Hitler foram enviados para os campos de concentração.
Esqueci-me há pouco de dizer que achei a figura do professor (a consciência) fantástica.
Fundamental é o livro que Hannah Arendt escreveu sobre o julgamento de Nuremberga.
M.

ana disse...

É verdade, esqueci-me de referir os opositores, pessoas louváveis.
Não conheço o livro Hannah Arendt, vou ter que o procurar...
Obrigada!

Anónimo disse...

Poderá ter-se vergonha daquilo que não conhecemos ou não sabemos?
J.

ana disse...

Pergunta difícil.

Hanna teve vergonha por não "saber ler e escrever" e escondeu de toda a gente essa sua falha. Conhecimento ela adquiria-o através dos outros que liam para ela... Todavia, poderia ter lutado contra isso mas não o fez... e neste caso é de ter vergonha!

Julgo que não se pode ter vergonha de não se saber, as circunstâncias são fundamentais para se poder conhecer, e estas ultrapassam o ser humano. Agora, todo o ser humano tem o dever de procurar o saber, a vergonha talvez se encontre no adormecimento. Pode lamentar-se não se saber mas vergonha, não acho que não!

ana disse...

M,
Também adorei o papel do professor: a interrogação e problematização que colocava aos alunos. Personagem interessante e como disse é a "consciência".