Prosimetron

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Veneza de Sophia de Mello Breyner Andresen!

Veneza continua a ser um palco e um cenário mesmo sem o Carnaval
Fotografia de Pedro Chico.
VENEZA Prólogo de uma peça de teatro Esta história aconteceu Num país chamado Itália Na cidade de Veneza Que é sobre a água construída E de noite e dia se mira Sobre a água reflectida. Suas ruas são canais Onde sempre gondoleiros Vão guiando barcas negras Em Veneza tudo é belo Tudo rebrilha e cintila Há quatro cavalos gregos Sobre o frontão de S. Marcos E a ponte do Rialto Desenha aéreo o seu arco Em Veneza tudo existe Pois é senhora do mar Dos quatro cantos do mundo Os navios carregados Desembarcam no seu cais Sedas tapetes brocados Pérolas rubis corais Colares anéis e pulseiras E perfumes orientais Cidade é de mercadores E também de apaixonados Sempre perdidos de amores E cada dia ali chegam Persas judeus e romanos Franceses e florentinos Artistas e bailarinos E ladrões e cavaleiros Aqui só há uma sombra As prisões da Signoria E os esbirros do doge Que espiam a noite e o dia De resto em Veneza há só Dança canções fantasia Cada ano aqui se tecem Histórias variadas Que às vezes até parecem Aventuras inventadas Por isso sempre digo Que Veneza é como aquela Cidade de Alexandria Onde há sol à meia-noite E há lua ao meio-dia * * Os últimos três versos são de tradição popular. Sophia de Mello Breyner Andresen, O Búzio de Cós e outros poemas, Lisboa: Caminho, 1997, p.35-36

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