Prosimetron

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sábado, 28 de fevereiro de 2009

Slumdog millionaire -Quem quer ser bilionário?


Gosto de bons filmes. Embora não seja nem um cinéfilo nem, muito menos, um crítico de cinema. Já vi, ao longo da vida, centenas senão milhares de filmes e, apenas por este critério de espectador atento, sei distinguir um bom de um mau filme.

Nos últimos anos só vou ao cinema quando sei que um filme é bom ou quando, pelas repercussões e controvérsias que suscita, me assalta a curiosidade e vou pôr à prova as críticas e os críticos. E fujo como o diabo da cruz dos filmes em que o principal motivo de atracção é a violência, os tiros de armas sofisticadas no seu poder mortífero, as explosões espectaculares que fazem saltar corpos, carros, casas e miolos ou aqueles outros em que as relações humanas são reduzidas ao sexo que inunda tudo, desde o cérebro à mais ínfima unha dos pés. Estou farto de estereótipos, de ideias feitas, de mortes gratuitas, de heróis modernos que lutam contra os males que assolam o mundo e as galáxias.

Tudo isto para dizer - contra ventos e marés que correm jornais e a blagosfera - que gostei de "Slumdog Millionaire"( estupidamente traduzido para "Quem quer ser bilionário?"). Não porque ganhou Óscares, mas porque desde a realização, à interpretação, à música, à história, é bom.

Não, não tem violência gratuita, mas apenas aquela que existe nas sociedades modernas, a maior das quais é a miséria mais abjecta que subsiste em países desenvolvidos e em potências económicas que emergem, como a Índia. Não tem efeitos especiais, nem heróis, nem bandidos que não sejam aqueles com quem vivemos ao pé da porta, também no nosso país. Não tem sexo explícito, nem cenas tórridas, nem problemas de mentes complicadas e complexas, nem pseudo filosofia de pacotilha, nem pseudo ecologismos e pseudo pacifismos tão do agrado das "elites" bem pensantes que costumam dar palpites e impor opiniões.

É uma história que não tem outras complicações que não as da vida comum que, infelizmente, continua a existir um pouco - um muito - por todo o mundo, onde a honestidade vence, onde o amor prevalece. Por isso já li críticas ferozes. A simplicidade incomoda, os valores fazem mossa em certas mentes deturpadas.

Não será o supra sumo do cinema, não terá a qualidade de "E tudo o vento levou", nem terá mensagens como " Citizen Kane". Mas é um bom filme. Se mereceu os Óscares que lhe foram atribuídos não sei dizer com a precisão de quem é um especialista. Mas o meu modestíssimo Óscar ganhou, porque saí da sala com a sensação de que o mundo ainda não está perdido e de que os valores do amor, da bondade, da honestidade são possíveis e ainda podem vencer.

9 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do filme.
A vida é uma grande escola, até para ser bilionário.
M.

Anónimo disse...

Ainda não vi o filme. Atrai-me por se passar na Índia. Miséria vi alguma, principalmente quando nos afastamos das cidades. Não obstante, Goa ser um caso particular, não se pode comparar com outras partes, como Bombaim, uma das cidades indianas com mais pobreza e riqueza...
Deve ser fascinante a história pelo que li.
Achei graça à sua crítica cutilante sobre o cinema: "nem pseudo filosofia de pacotilha, nem pseudo ecologismos e pseudo pacifismos tão do agrado das "elites" bem pensantes que costumam dar palpites e impor opiniões". Pensava que fazia parte das elites!
Também chama de pseudo-qualquer- coisa o Revolutionary Road?, A Troca? E o melhor filme que vi nos últimos tempos: The Reader?
A.R.

Anónimo disse...

Venho emendar uma gralha deve ler-se acutilante em vez de cutilante.
A.R.

LUIS BARATA disse...

Bem, a nossa A.R. a meter-se com o nosso JMS ! Fico a aguardar pela resposta...
Ainda não vi o filme, pelo que não me posso pronunciar. Aliás, nem este nem ainda outros que estão em exibição. Tenho umas semanas de cinema para recuperar...

João Mattos e Silva disse...

Caríssima AR,por alguma razão coloquei aspas nas elites."Elites" para quem os únicos, pelo menos preponderantes, valores são certas filosofias na moda, certos ecologismos que têm mais a ver com causas políticas, certos pacifismos que só condenam certas guerras e não todas, certos temas que só eles fazem, na sua opinião, bons filmes. São, do meu ponto de vista -discutível, é claro - falsas elites. E não, não me considero membro de nenhuma elite. Talvez seja mais esclarecido do que muita gente que se julga fazendo parte dos "sábios", mas sou uma pessoa comum, com a humildade de me considerar comum e,por isso, não tentar impor arrogantemente, as minhas opiniões.

LUIS BARATA disse...

E não tardou a resposta! Parece que metade do blogue já acordou.
Pois é, isto das elites e das pseudo-elites dá pano para mangas...

Anónimo disse...

Caríssimo João Mattos e Silva,
Tem razão, os ecologismos também me causam arrepios! Colocam por vezes as espécies animais à frente dos racionais o que é uma incoerência histórica... e saltem daí os ecologistas...podem matar-me, não me importa!
Ainda bem que não faz parte de elites assim posso conviver consigo. Acordei hoje, tão crítica como o João acordou, deve ser desta chuva e dia cinzento.
Para um esclarecido comum:

POEMA ACASO GREGO

"Como Ulisses perder-me
em mares do ignorado.
Tecer como Penélope
de sonhos cada instante.
E ser nesta viagem
de velas indecisas
pastor e mareante."
João Mattos e Silva, Intemporal, Antologia,Lisboa: Universitária Editora, 2003, p.65.

NÃO ESTOU A DAR GRAXA! BOM FIM-DE-SEMANA
A.R.

João Mattos e Silva disse...

Obrigado AR. Bom fim de semana também. E retribuo-lhe, acima, com uma voz que estou a ouvir e me eleva acima destas nuvens escuras, até mais perto do sol.

Filipe Vieira Nicolau disse...

O seu post expressa tudo ... Não há nada mais a acrescentar