Prosimetron

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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Uma nova escola poética – o Futurismo

O Futurismo no Jornal de Notícias há 100 anos

«Havia já o Decadentismo, o Simbolismo, o Satanismo, o Naturalismo, para não falarmos de escolas literárias bem distantes ou quase extintas como o Romantismo e mesmo o agonizante Parnasianismo. Hoje aparece-nos uma nova plêiade: a do “Futurismo”.
«O poeta que lança esta nova escola é o director duma revista poética italiana, de Milão: a Poesia. Chama-se Marinetti e tem publicado vários livros de versos em francês e em italiano.
«O título “Futurismo” é bem extraordinário – mas é um título. Não nos agrada sobremaneira, mas é de crer que venha a ter adeptos, como os tem o Naturalismo.
«O chefe da nova escola apresentou já o seu programa.
«Os “futuristas” querem: cantar o amor do perigo, a energia, a temeridade. Os elementos principais da nova escola poética serão a coragem, a audácia e a revolta.
«A literatura até aqui (diz o poeta Marinetti no seu manifesto) tem apenas cantado o êxtase, a imobilidade pensativa, o sono: os “futuristas” querem cantar o salto, a bofetada, o murro, o passo ginástico, o movimento agressivo. Para os novos poetas dessa revolucionária musa do “Futurismo”, um automóvel de corridas vale mais do que as obras-primas do Museu do Louvre ou de Florença ou do Prado.
«Já vêem o que virão a ser os “poemas do futuro”, assinados pelos poetas da novíssima geração!
«Um dos dogmas do novo credo poético do Futurismo é este:
«-Queremos glorificar a guerra, única higiene do mundo – e queremos igualmente glorificar o militarismo, a ideia de pátria, os belos pensamentos, o desprezo pela mulher e, sem esquecer, o gesto destruidor de Ravachol.
«”Queremos destruir pelo fogo todos os museus, todas as bibliotecas, etc.”
«E o manifesto continua no mesmo teor, com os mesmos disparates, fazendo a apologia do crime, da loucura, do bluff, do automobilismo, do jogo de apaches, etc. Ora se isto é a poesia do futuro que nos promete o sr. Marinetti, hão-de convir que antes, mil vezes antes, o mais descabelado romantismo do tempo de Dumas pai, à mistura com Rocambole e outros folhetinistas tétricos.
«Parece-nos que a nova escola poética, o Futurismo, não passa duma blague carnavalesca. Basta ter sido lançada em artigo do Fígaro nas antevésperas de Domingo Gordo*.
Xavier de Carvalho
In: Jornal de Notícias, Porto, 26 Fev. 1909, p. 1

* Em 1909 o Entrudo foi a 23 de Fevereiro. O manifesto saiu no Fígaro a 19 (data de 20) (nota de Pedro da Silveira em O que soubemos logo em 1909 do Futurismo.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto imenso desta corrente e desta época. Olhando para a actualidade, estamos num impasse de ideias... ou elas existem mas não têm impacto.
Bonito post.
A.R.